Alta de custos e menos otimismo quanto à demanda prevista estão no radar dos empresários da construção

Por Solange Monteiro, do Rio de Janeiro

A Sondagem da Construção do FGV IBRE de janeiro registrou uma queda da confiança no setor de 1,9 ponto, para 94,9 pontos, o menor nível desde 2023.  Ana Maria Castelo, coordenadora de Projetos da Construção do FGV IBRE, afirma que a principal calibragem no otimismo de empresários se deu no terreno das expectativas, quanto à demanda futura em alguns segmentos. Obras de instalações e edificações residenciais foram os grupos que registraram maior queda, respectivamente, de 6 e 4,1 pontos em relação a dezembro. “Em 2024, tivemos todos os segmentos crescendo fortemente, e para este ano a maioria têm o ciclo contratado, com obras em andamento”, afirma Castelo. A atenção, agora, se volta à sustentabilidade desse crescimento quando o atual ciclo for concluído, em especial diante do cenário de juros em alta.

Sondagem da Construção - demanda prevista
indicador em pontos, com ajuste


Fonte: FGV IBRE.

No segmento residencial, Castelo lembra que o programa Minha Casa Minha Vida (MCMV) tende a se manter aquecido e suavizar oscilações nos projetos para as demais faixas de renda. Dados da Associação Brasileira das Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc) indicam que no acumulado de janeiro a outubro de 2024 tanto o segmento do MCMV quanto o do médio e alto padrão registraram aumento de lançamentos – respectivamente, de 33% e 13,6% em relação a igual período de 2023. No caso das vendas, o avanço foi de 26,1% no segmento do MCMV e de 3,8% no médio e alto padrão. “Um ponto a se observar este ano é o risco de certo estresse no mercado em relação aos imóveis com previsão de entrega para este ano, com risco de o repasse dos financiamentos acontecerem em condições desvantajosas em relação ao período em que essas unidades residenciais foram adquiridas”, diz Castelo. De acordo à Abrainc, de janeiro a outubro de 2024 os distratos registraram alta de 0,5 ponto em relação aos dez primeiros meses de 2023, alcançando para 11,4%, nível considerado baixo. “Essa é uma instância a que nenhum comprador quer chegar, pois perderá o recurso investido. Normalmente, o que as empresas fazem é buscar uma solução, como negociar a troca por um imóvel de menor valor”, comenta Castelo.

Índice Nacional de Custo da Construção
variação % em 12 meses


Fonte: FGV IBRE.

No caso das obras de infraestrutura, a expectativa está posta no calendário de leilões – somente em rodovias, o plano do governo é de realizar 15 leilões, somando 7,2 mil quilômetros e R$ 161 bilhões em investimento. “Nessa área, a expectativa ainda é positiva, apesar da luz amarela quanto à questão fiscal do governo federal, posto que arranjos como PPPs também demandam uma parte de investimento público”, afirma Castelo, lembrando, entretanto, que na esfera estadual essa tendência pode ser diferente.

Limitações à melhoria dos negócios, % de assinalações
itens com maior frequência de menções 


Fonte: FGV IBRE.

Outro elemento que no início deste ano também preocupa os empresários são os custos. Além de um mercado de trabalho aquecido que pressiona os salários, Castelo destaca que o custo dos materiais também está em trajetória de alta – ainda que em desaceleração na ponta, em relação a dezembro. “No início de 2024, mesmo com os custos de mão de obra já alto, os materiais ainda estavam saindo de uma trajetória de deflação”, compara. No acumulado de 12 meses, em janeiro de 2024 o grupo materiais e equipamentos registrava variação de -0,03% e a mão de obra, alta de 6,24%. Em janeiro deste ano, materiais registram alta de 5,54% e a mão de obra, 9%. “Novamente, a tendência é de termos uma inflação para o setor acima da inflação geral”, diz Castelo, destacando que, no caso da mão de obra, a chance de desaceleração só deve acontecer no segundo semestre, no caso de que a desaceleração da atividade brasileira aconteça a ponto de se refletir no desemprego, aumentando a oferta de trabalhadores para o setor.

 


As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva do autor, não refletindo necessariamente a opinião institucional da FGV.

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