Edição de dezembro de 2022

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Nota do Editor

O mercado de trabalho tem apresentado uma forte recuperação ao longo deste ano. A taxa de desemprego, que chegou a superar os 13%, despencou para 8,3% no trimestre encerrado em outubro último.

Os números, à primeira vista, sugerem um mercado de trabalho pujante. Mas, se colocarmos uma lupa na situação do emprego, o resultado é de grandes fragilidades, o que tem preocupado quem se debruça a estudar o assunto.

Observatório da Produtividade Regis Bonelli tem mostrado que a produtividade do trabalho no país é muito ruim, mostrando a má qualidade do emprego que vem sendo gerado na economia. Para aprofundar ainda mais essa análise, o FGV IBRE lançou, na última terça-feira (6), a Sondagem do Mercado de Trabalho, que revela aspectos ainda pouco conhecidos do trabalho.

Como mostra a Carta do IBRE, com base na Sondagem, “quase 70% dos trabalhadores por conta própria, que hoje compõem 25% da População Ocupada (PO), gostariam de ter um vínculo de emprego numa empresa privada ou pública. 88% dos trabalhadores informais desejam um registro, seja da CLT ou como CNPJ. No primeiro caso, 64,5% dos por conta própria que querem ser empregados citam como razão benefícios da CLT ou o fluxo fixo de renda.

Renda baixa e falta de benefícios também aparecem como principal motivo de insatisfação com o trabalho no Brasil. 67,6% dos brasileiros se dizem muito preocupados com sua situação financeira de longo prazo, num horizonte de 5 a 10 anos. Os trabalhadores insatisfeitos são os que têm a pior percepção de bem-estar na pesquisa. E 66,5% dos ocupados dizem que só poderiam se sustentar e à sua família por um máximo de 3 meses caso perdessem o emprego”.

Essas fragilidades também têm sido apontadas pelos pesquisadores do FGV IBRE, como Paulo Peruchetti, que mostra a heterogeneidade entre os grupos que compõem o mercado de trabalho.

Quando se analisa, por exemplo, os grupos de forma separada, apesar de uma melhora ao longo dos últimos meses, alguns deles ainda registram taxas de desemprego girando na casa dos dois dígitos. Como é o caso das mulheres, cuja taxa de desemprego no último trimestre foi de 11%, bem maior que os 6,9% no caso dos homens.

Janaina Feijó, pesquisadora do FGV IBRE, em estudo recente, mostra que a taxa de desemprego entre os pretos e pardos está girando na casa dos 10,2%, enquanto entre os brancos e amarelos essa taxa despenca para 6,8%. Um ponto que merece atenção ao se analisar o mercado de trabalho brasileiro é a dinâmica da taxa de participação (razão entre a força de trabalho e a população em idade para trabalhar), que tem permanecido estável já há alguns meses, atingindo 62,6% em outubro passado.

Outro ponto que preocupa é o nível de desalento, que parece ter parado de cair, permanecendo nos patamares elevados observados antes da pandemia. A situação preocupa, pois mostra que ainda existe, para esse grupo, certa dificuldade de inserção no mercado de trabalho, que faz com que eles desistam de procurar emprego. Também permanece elevado o número de desalentados (83%) que afirmam não conseguir emprego adequado, tendo grandes dificuldades em se recolocar.

Segue o desafio de melhorar a qualidade do mercado de trabalho e, consequentemente, reduzir a desigualdade e a pobreza – que mudou de cara, como mostra estudo de Ricardo Paes de Barros, conhecido como PB, Laura Muller Machado e Laura Almeida Ramos de Abreu, pesquisadores do Insper (ver Em Foco: A cara da pobreza mudou).

 

Claudio Conceição

 


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