Sondagens: queda generalizada da confiança em outubro, entre empresas e consumidores

Por Solange Monteiro, do Rio de Janeiro

Outubro marcou a queda da confiança tanto de empresários quanto dos consumidores brasileiros, como mostraram as Sondagens do FGV IBRE. As últimas divulgações do mês feitas nesta segunda (30/10) não contrariaram a tendência que vinha se construindo nas últimas semanas. Comércio registrou a segunda queda consecutiva, desta vez mais acentuada, de 3 pontos em relação ao mês anterior, levando o índice 89,2 pontos. Um fator de alerta sinalizado por Geórgia Veloso, economista do FGV IBRE, é de que o recuo maior foi no índice que mede as expectativas para os próximos meses, que caiu para 86,7 pontos, mais distante do nível de neutralidade de 100 pontos. No setor de serviços, por sua vez, a queda foi de 1,6 ponto, para 95,3 pontos.  Ainda que a avaliação dos empresários sobre a situação atual tenha registrado estabilidade – com pequena alta de 0,2 ponto em relação a setembro – a queda de 3,3 pontos no indicador das expectativas também demonstra menos otimismo com os negócios nos próximos meses.

“Observamos um recuo semelhante tanto na demanda de serviços prevista nos próximos três meses quanto na tendência de negócios para seis meses adiante”, afirma Stéfano Pacini, economista do FGV IBRE. Um destaque da Sondagem foram os sinais de desaceleração dos serviços prestados às famílias, sugerindo que a resiliência que o segmento vinha apresentando até meados do ano, apesar do ainda alto nível de juros e de inadimplência das famílias, pode estar acabando. “Não dá para cravar que há um esgotamento da recuperação, pois se observarmos os resultados da última Pesquisa Mensal de Serviços do IBGE, referente ao mês de agosto, veremos que os serviços prestados às famílias – basicamente, alojamento e alimentação fora de casa - ainda se encontram abaixo do nível pré-pandemia”, diz Pacini. “Mas há fatores macroeconômicos que de fato dificultam a continuidade dessa recuperação.”

Serviços: fim do ciclo de recuperação?
Índice de confiança, em pontos


Fonte: FGV IBRE.

O Índice de Confiança da Construção do FGV IBRE caiu 1,8 ponto em outubro, interrompendo uma sequência de três meses de alta, com um recuo disseminado por todos os segmentos. Ana Maria Castelo, coordenadora de Projetos da Construção do FGV IBRE, indicou a percepção dos entrevistados de um ritmo aquém do esperado nos novos negócios – o que, no caso da infraestrutura, pode ser revertido com os projetos do PAC – e a preocupação com a contratação de mão de obra qualificada, que os empresários avaliam como cara e escassa.

Entre esses segmentos, entretanto, o saldo do ano ainda é positivo, com o Índice de Confiança apresentando uma pontuação maior do que a registrada em janeiro. A exceção é a indústria, que desde junho apresenta recuo da confiança, e cujo resultado de outubro está 3 pontos abaixo da confiança com a qual o setor começou o ano. “Esse é um negócio mais sensível às condições de crédito para tomar decisão de novos investimentos, e depende da demanda do comércio: se não identifica uma tendência de aumento, tem limite para ampliar estoques”, afirma Pacini. O economista do IBRE destaca que desde setembro de 2022 o setor aponta níveis de estoques fora da normalidade, e que o nível de indicações de demanda fraca como fator limitante, de 32%, é o maior desde abril da 2020, no início da pandemia, quanto foi apontada como fator de preocupação por 34% dos respondentes. A maior concentração de assinalações de demanda fraca é observada no segmento de bens duráveis, especialmente entre fabricantes de veículos (com 46%). O resultado espelha a queda de investimentos observada recentemente pelo Monitor do PIB no setor (leia aqui). “Isso aponta a que, pese o esforço do governo em incentivar a compra de automóvel zero-quilômetro, a iniciativa mais colaborou para reduzir estoques do que para gerar nova demanda”, sinaliza Pacini.

Seto produtivo: à exceção da indústria, queda na margem ainda não anula saldo positivo no acumulado do ano
(índice de confiança, em pontos)


Fonte: FGV IBRE.

 

Indústria de transformação: sinalizações de baixa demanda chegam a pior nível desde início da pandemia
frequência de menções ao fator limitativo (em %)


Fonte: FGV IBRE.

Pelo lado da demanda, a Sondagem dos Consumidores tampouco indicou um panorama mais positivo, que servisse de farol para o setor produtivo. A desaceleração da economia esperada para o segundo trimestre de fato se observa no humor das famílias, que registrou recuo de 3,8 pontos em outubro, para 93,2 pontos, depois de quatro altas consecutivas. Anna Carolina Gouveia, economista do FGV IBRE, indica que essa revisão para baixo da confiança ocorreu em todas as faixas de renda, e foi influenciada especialmente pela piora das expectativas para os próximos meses. Um dos fatores que podem estar por trás desse aumento de pessimismo, diz Anna, são preocupações quanto à manutenção do emprego. Apenas consumidores de menor poder aquisitivo (com renda até R$ 2.100,00) se mostraram mais satisfeitos com a situação atual. A maior queda do Índice de Confiança no mês se deu na faixa de renda entre R$ 2,1 mil e R$ 4,8 mil, com -6,2 pontos em relação a setembro.

Consumidores: queda disseminada em todas as faixas de renda
(ìndice de confiança, em pontos)


Fonte: FGV IBRE.

 


As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva do autor, não refletindo necessariamente a opinião institucional da FGV.

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