Indefinições no campo econômico para 2023 levam a queda da confiança no setor da construção em novembro

Por Solange Monteiro, do Rio de Janeiro

O Índice de Confiança da Construção do FGV IBRE registrou queda de 5,3 pontos em novembro, saindo de um nível de ligeiro otimismo em outubro (de 100,9 pontos, considerando 100 pontos a neutralidade) para 95,6 pontos. Tal variação mensal negativa é a maior registrada desde o período inicial da pandemia, em abril de 2020, e foi puxada especialmente pelo índice que mede as expectativas, com alta de 8,8 pontos, referente à percepção dos empresários até seis meses à frente.

Ana Maria Castelo, coordenadora de Projetos de Construção do FGV IBRE, afirma que hoje não se identifica qualquer revés na atividade do setor, e que a indefinição quanto ao rumo da política econômica do governo a partir de 2023 deve ser a maior influência por trás desse resultado. “Para a construção, há dois elementos fundamentais: o cenário de juros, e os rumos da política habitacional”, cita. No caso do primeiro, as reações iniciais do mercado quanto à PEC da Transição - com previsões de manutenção da Selic a 13,75% por mais tempo que o desejado, ou até de novos aumentos -, se consolidadas, podem jogar contra os interesses do setor, sensível ao aumento do custo do crédito. Tal como explicado no Boletim Macro IBRE de novembro, a previsão inicial da PEC de excluir o programa social de forma permanente do teto de gastos embute o risco de levar a uma maior pressão inflacionária tanto pelo canal da demanda quanto peli aumento do risco país, que afeta o câmbio, e rebate na inflação. Quanto ao futuro do Casa Verde Amarela / Minha Casa Minha Vida, Ana lembra que as sinalizações iniciais dadas pelo presidente eleito foram positivas para o setor, com a indicação de se recuperar a cobertura à faixa de menor renda, dependente de subsídio. Isso dependerá, entre outros fatores, do espaço fiscal que o governo conseguirá para o programa. “A definição do programa em si, entretanto, não pode ser esperada para agora. Hoje o que se tem é um gabinete de transição que está focado em uma prioridade, que é garantir o orçamento de 2023. Desenhos de política, entretanto, depende da definição de equipe, cujo trabalho só começará de fato no ano que vem”, afirma. 

Índice de Confiança da Construção 
Evolução na margem e estatísticas descritivas

Faixa entre 100-110: sinaliza o período moderadamente otimista. Faixa entre 90-100: sinaliza o período moderadamente pessimista. Fonte: FGV IBRE.

 

Índice de Expectativa da Construção 
Evolução na margem e estatísticas descritivas


Faixa entre 100-110: sinaliza o período moderadamente otimista. Faixa entre 90-100: sinaliza o período moderadamente pessimista. Fonte: FGV IBRE.

Por ora, os resultados da Sondagem da Construção apontam que os temores de fato concentram-se no campo das expectativas. Comparando com novembro de 2021, o percentual de empresas que afirmam não contar com fatores limitativos à melhoria dos negócios está 7 pontos percentuais acima (22,8%). Há redução significativa nas referências quanto a demanda insuficiente, escassez de material ou equipamentos e custo de matéria-prima. Entre as citações que registraram aumento em relação ao mesmo período do ano passado destaca-se a escassez de mão-de-obra qualificada e o item “outros” - que reúne uma variedade ampla de temas que, sozinhos, ainda não se configuram de peso significativo. “Em relação às perspectivas, a maior parcela dos empresários da construção (22,1%) aponta que a demanda continuará crescendo, contra 13,7% que indicaram queda”, diz Ana, lembrando que esse saldo em relação ao aumento da demanda é inferior ao registrado em novembro do ano passado, quando marcou 30,1%, enquanto as referências sobre queda de demanda se mostraram estacionadas (13,3%).

Outros sinais vindos do mercado reforçam a ideia de que, salvo uma reversão significativa no cenário macroeconômico, a queda de confiança do setor registrada em novembro tenderá a ser pontual.  Levantamento da Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc) divulgado em novembro apontou que a expectativa de lançamentos e compras de terreno ainda se mantinha em alta. No setor da infraestrutura, uma antecipação dos resultados do Livro Azul da Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib) publicada pelo Valor Econômico (conteúdo restrito a assinantes do jornal) indica que em 2023 o setor deverá movimentar R$ 173 bilhões em novos investimentos até 2027, dos quais R$ 96 bilhões já estão contratados, sendo os demais provenientes de licitações a serem realizadas nos próximos anos. “Temos um ciclo do mercado imobiliário e da infraestrutura que não tende a se inverter abruptamente. Mas há de fato uma queda do otimismo em relação à demanda prevista”, diz Ana. “Será preciso aguardar os próximos meses. Caso o quadro de deterioração das expectativas com uma sinalização de aumento da taxa de juros se mantenha, aí poderemos avaliar que a sustentação do atual ciclo está em risco”, conclui.

Fatores limitativos à melhoria dos negócios - Total
Proporção de empresas selecionando cada opção de resposta, em %, com ajuste sazonal


Fonte: FGV IBRE.

 


As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva do autor, não refletindo necessariamente a opinião institucional da FGV.

Subir