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A difícil situação da mulher no mercado de trabalho

Por Claudio Conceição, do Rio de Janeiro

A diferença salarial e o menor número de mulheres no mercado de trabalho, embora a população feminina seja maioria no Brasil, têm efeitos perversos sobre a economia. Estudo de Janaína Feijó, pesquisadora do FGV IBRE, publicado na edição da última quarta-feira, 28, do jornal Valor Econômico mostra, também, que a taxa de desemprego das mulheres vem sendo superior à dos homens desde 2012, diferença que se acentuou a partir de 2019, e que se ampliou durante a pandemia da Covid-19.

Legado cultural de uma sociedade onde os homens estão à frente nos cargos de direção, pouca representatividade política, maternidade – as mulheres com filhos têm uma participação ainda menor no mercado de trabalho –, salários mais baixos são alguns exemplos que espelham a delicada situação da mulher no mercado de trabalho.

Alguns pontos do estudo “Diferenças de Gênero no Mercado de Trabalho” que foram destaque no Valor:

• haveria ganhos de produtividade e, consequentemente, maior crescimento econômico se todas as mulheres em idade de trabalhar estivessem incluídas no mercado de trabalho. (Cálculos de Fernando de Holanda Barbosa Filho, também pesquisador do FGV IBRE, citado pelo Valor, sinaliza que a redução da diferença na participação entre homens e mulheres no mercado de trabalho poderia acrescentar 0,3 ponto percentual de crescimento do PIB ao longo de 20 anos).

• a queda de barreiras à participação no mercado de trabalho para as mulheres aumenta os ganhos de produtividade. A reportagem do Valor mostra que 36% dos ganhos de produtividade entre 1970 e 2010 no Brasil podem ser atribuídos à maior inserção das mulheres no mercado de trabalho, conforme estudo “Women and Men at Work: Fertility, Occupational Choice and Development”, dos pesquisadores Laísa Rachter, ex-pesquisadora do FGV IBRE, Tiago Cavalcanti, Letícia Fernandes e Cézar Santos.

• a taxa de desemprego para as mulheres é maior: no segundo trimestre ela atingia 11,6% da população feminina, ou seja, 5,5 milhões, enquanto a masculina era de 7,5%, 4,6 milhões.

Taxa de participação na força de trabalho


Fonte: Elaboração FGV IBRE com base nos micro dados da PNAD Contínua disponibilizados pelo IBGE.

 

Taxa de desemprego


Fonte: Elaboração FGV IBRE com base nos micro dados da PNAD Contínua disponibilizados pelo IBGE.

• as mulheres ganham menos, mesmo exercendo as mesmas funções, o que é proibido pela CLT. Embora tenha havido uma melhora, o fosso ainda é profundo. A diferença salarial que era de 31,5% em 2012, é de 24,7% hoje. E se for levado em conta mesmo nível educacional, raça, setor de atividade, se é emprego formal ou não, essa diferença sobe, passando de 42,8% para 34,1% no período.

• para quem completou o ensino superior e tem entre 24 e 60 anos, a situação piora. Se pegarmos o grupo dos 10% mais pobres da população, as mulheres respondem por 72,7% dos salários pagos. Os homens, por 27,3%. No topo da pirâmide, pegando os 10% mais ricos, isso se inverte: os homens passam a abocanhar 66,9% dos salários, enquanto as mulheres ficam com 33,1%.

Diferenças nos rendimentos entre homens e mulheres


Nota: Com controles: comparando indivíduos semelhantes quanto a raça, região, área censitária, setor de atividade, nível educacional, experiência, tipo de emprego (se é formal, se é servidor público) e horas trabalhadas. Gap ajustado. Fonte: Elaboração FGV IBRE com base nos micro dados da PNAD Contínua disponibilizados pelo IBGE. Valores em reais do 2º trimestre de 2022.

 

Composição de gênero nas ocupações de maiores salários
Pessoas ocupadas com ensino superior, entre 24 e 60 anos – 2022.2


Fonte: Elaboração FGV IBRE com base nos micro dados da PNAD Contínua disponibilizados pelo IBGE.

• mulheres com filhos são mais penalizadas. Quando um casal tem um filho, a taxa de participação da mulher – é a razão entre a força de trabalho (que engloba ocupados e desocupados), e a população em idade para trabalhar, que compreende as pessoas de 14 anos ou mais, cai para 22% no primeiro ano de vida da criança, enquanto a dos homens vai a 71%. Antes de ter filhos, a taxa de participação da mulher era de 48% e do homem, de 70%.

• mesmo com a criança crescendo essa taxa de participação não volta ao patamar antes do nascimento. Já a dos homens praticamente não se altera. Somente quando a criança completa 8 anos, a taxa de participação começa a voltar ao patamar antes do nascimento.

• ficando fora do mercado de trabalho devido a maternidade, aumentam as barreiras para o retorno e há forte depreciação do capital humano, tornado essa volta ainda mais difícil.

• quando a mulher engravida, mesmo antes de sair de licença, há o que Janaína chama de “efeito maternidade”: os empresários calculam os custos que terão com a maternidade – licença maternidade, tempo sem a funcionária – e acabam por não oferecer posições de maiores salários dentro da empresa. Ou seja: há uma penalização pela maternidade.

Entendendo as disparidades: maternidade
(Taxa de participação das pessoas casadas – em %)


Obs: Casais heterossexuais vivendo em união estável ou casados. Fonte: Elaboração FGV IBRE com base nos micro dados da PNAD Contínua disponibilizados pelo IBGE.

 


As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva do autor, não refletindo necessariamente a opinião institucional da FGV.

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