Consumidor: confiança com futuro aumenta, mas melhora da intenção de compras só se dá na menor faixa de renda

Por Solange Monteiro, do Rio de Janeiro

O Índice de Confiança do Consumidor do FGV IBRE encerrou o ano com alta de 2,7 pontos em relação ao mês anterior, em 88 pontos, recuperando parte da perda registrada nos meses de outubro e novembro, quando totalizou queda de 3,7 pontos. A reação da confiança em dezembro se deu pelo lado das perspectivas quanto ao futuro, enquanto a avaliação sobre a situação atual se manteve estável.  Com o aumento de 4,3 pontos, o Índice de Expectativas (IE) voltou ao terreno da neutralidade em que se encontrava em setembro, somando 100,3 pontos. Já o índice que mede a situação atual (ISA) se mantém longe do nível dos 100 pontos, fechando o ano em 70,9 pontos.

Viviane Seda Bittencourt, superintendente adjunta de Ciclos Econômicos, responsável pela Sondagem do Consumidor, afirma que entre os quesitos que compõem o ISA destaca-se em dezembro a piora da percepção dos consumidores quanto ao emprego, cujo índice fechou o ano em 67,1 pontos. “Há uma avaliação de desaceleração no mercado de trabalho. Somada a uma conjuntura de elevado nível de endividamento das famílias, e uma alta da inflação na margem depois da trégua nos preços observada há alguns meses, observa-se que não há uma conjuntura que promova uma melhora concreta do ânimo do consumidor sobre o presente”, diz.

A economista do IBRE indica que a melhora no campo das expectativas pode estar relacionada ao período de lua-de-mel do qual os novos governos em geral se valem em começo de mandato, que alimenta esperanças de melhoria a partir de 2023. “Essa tendência pode ser vista especialmente nas faixas de renda mais baixas, que esperam ver suas necessidades atendidas”, diz.

Para ilustrar essa tendência, Viviane descreve os resultados das respostas sobre a situação financeira futura das famílias, quesito que faz parte do Índice de Expectativas, separadas por faixa de renda. Entre os consumidores de faixa de renda até R$ 2,1 mil, a confiança cresceu 11,8 pontos em dezembro em relação a novembro, para 110,4 pontos. “É a única faixa de renda na qual essa melhora vem atrelada a um aumento da intenção de compras de bens duráveis, que subiu 13,9 pontos”, descreve, indicando que a manutenção do atual valor do Auxílio Brasil / Bolsa Família pode contribuir para esse quadro.

Evolução do Índice de Confiança do Consumidor
(em pontos)


Fonte: FGV IBRE.

Na faixa de renda de R$ 2,1 mil a R$ 4,8 mil, a melhora da percepção sobre a situação financeira futura é ainda maior, com alta de 18,3 pontos no mês, para 112,3 pontos, levando esse índice ao melhor resultado desde janeiro de 2013. “Nesse grupo, entretanto, a intenção de consumo registra queda de 4,2 pontos. Ou seja, a melhora não está relacionada com a perspectiva de ampliar os gastos”, diz – tendência que, entre outros motivos, pode estar relacionada ao alto nível de endividamento das famílias citado por Viviane.

Na faixa de renda entre R$ 4,8 mil a R$ 9,6 mil, esse quesito das expectativas também registrou melhora significativa, de 11,4 pontos, mais é considerado menos expressivo por apenas reposicionar o resultado na média da série histórica, retornando ao nível de fevereiro de 2020. “E, neste grupo, a intenção de compra de bens duráveis registra queda ainda maior, de 9,3 pontos”, completa Viviane.

Em na faixa de renda acima de R$ 9,6 mil, os resultados são menos otimistas nas duas frentes. É o grupo em que o otimismo quanto à situação financeira familiar futura sobre menos – 3,2 pontos, para 96,3 pontos, único grupo com esse quesito abaixo do nível neutro de 100 pontos – e onde a intenção de compras de bens duráveis cai mais, 10,3 pontos.

Variação da expectativa quanto à situação financeira futura das famílias e intenção de compra de bens duráveis, por faixa de renda 
(em pontos)


Fonte: FGV IBRE.

Viviane destaca que esses resultados reforçam a percepção de que a esperança de recomposição de consumo se concentra nas classes de renda mais baixa, enquanto nas demais os sinais ainda apontam a retração de consumo de bens duráveis. Em um quadro em que a inflação ainda suscita preocupações, sem horizonte claro de redução de taxas de juros e um crescimento econômico menor adiante, são resultados que ainda requerem cautela. “A piora na percepção sobre o mercado de trabalho também gera cautela na intenção de compras no curto prazo”, lembra Viviane. “O ano fecha com um saldo positivo e zera as perdas acumuladas nos últimos dois anos, mas é necessário um grande caminho para que a confiança volte superar o nível neutro, estimulando o consumo.”

 


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