Superquarta: a atenção de política monetária estará nas direções, afirma Livio Ribeiro

Por Solange Monteiro, do Rio de Janeiro

Ainda que não se esperem mudanças nas taxas de juros básicas do Brasil e Estados Unidos esta semana, as reuniões dos comitês de política monetária - Copom e Fomc - guardam expectativas não triviais para o horizonte da política monetária nos dois países.

Livio Ribeiro, pesquisador do FGV IBRE, afirma que no caso dos Estados Unidos o ponto de atenção será a coletiva de imprensa realizada após a divulgação do comunicado das decisões e perspectivas do Fomc. Ribeiro lembra que a comunicação do banco central americano vem de um histórico recente de oscilações – migrando de sinalizações otimistas para a trajetória de corte de juros no fim de 2023 a indicações de uma ação mais cautelosa diante do aquecimento verificado na bateria de dados monitorados pelo banco no primeiro trimestre do ano. “Com os dados de junho apontando a uma economia mais fraca, o comunicado oficial do banco manteve a indicação de discussão posterior sobre o cronograma de cortes. Na coletiva de imprensa, entretanto, Jerome Powell (presidente do FED) tomou boa parte do tempo discutindo quais condicionantes levariam a uma antecipação de cortes”, ressalta, indicando que a comunicação do banco nesta reunião será determinante para consolidar a direção que o BC americano pretende informar ao mercado, confirmando ou desidratando a expectativa de início de cortes para setembro, para onde aponta a maioria das projeções.

“Setembro conta com uma característica, que é uma sazonalidade favorável na inflação de 12 meses. É preciso levar em conta também que se trata de um período pré-eleição, que deve trazer algum tipo de contaminação”, afirma Ribeiro. O pesquisador do FGV IBRE indica que um desafio não menor será dominar as rédeas das expectativas sobre o ciclo de cortes depois de setembro, lembrando das reações de mercado no final de 2023, superdimensionadas em relação à conjuntura e à própria sinalização do FED – fator também destacado por José Júlio Senna em análise publicada no Boletim Macro FGV IBRE de julho (veja mais). “Há o risco de, a partir daí, se alimentar uma grande sequência de cortes na curva de juro americana, o que pode ser temerário”, diz, reiterando a importância de que, na comunicação de julho, o Fomc e o presidente do FED tenham precisão em seu discurso ao mercado.

No caso do Brasil, Ribeiro lembra que a recente variação do câmbio, a bandeira amarela na tarifa de energia em julho – que não se repetirá em agosto – e o reajuste dos combustíveis jogou mais pressão na inflação de 2024, que no relatório Focus desta semana registrou alta de 0,05 ponto para o IPCA no fechamento do ano, para 4,1%. O principal ponto de atenção, entretanto, é o que esperar para 2025, afirma, posto que o ciclo de corte de juros seguiu seu curso até maio mesmo com a projeção do IPCA de 2025 estar acima da meta, em torno de 3,2%. “Se a meta fosse estrita, o BC não teria cortado o que cortou”, afirma.

Esse é um dos fatores que levam Ribeiro a tomar com estranheza as projeções de mercado de elevação da Selic neste ano – de ao menos duas, começando em setembro.  “Entrou-se na pilha de que é preciso subir juro por causa da meta. Mas quando se estava cortando juros há 6 meses e as estimativas não estavam alinhadas – sejam as projeções do BC, sejam as expectativas de mercado – essa preocupação não existia”, afirma.

Essa, para Ribeiro, é a principal sinalização que se espera do Copom de julho: uma comunicação, “talvez mais na ata do que no comunicado”, diz, de que talvez seja necessário subir juro. “Tenho poucas dúvidas de que há diretores com a visão de deixar essa porta aberta. Mas também tenho poucas dúvidas de que a maioria optará por deixar a vida correr”, afirma.

 


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