PIB melhor que o esperado no primeiro trimestre, mas com incertezas à frente
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Postado por Conjuntura Econômica
Por Solange Monteiro, do Rio de Janeiro
O PIB brasileiro do primeiro trimestre divulgado ontem pelo IBGE veio ligeiramente melhor que o esperado, com alta de 0,8% em relação ao quarto trimestre de 2023, e crescimento interanual de 2,5%. Pelo lado da oferta, entre as surpresas positivas esteve o desempenho da agropecuária, com uma retração menor que a inicialmente esperada diante das secas e chuvas mais intensas em regiões produtoras do país. A queda foi de 3% em relação ao primeiro trimestre de 2023, levando a um acumulado de 6,4% em 12 meses. Também foi destaque o setor de serviços, com um crescimento de 1,4% em relação ao trimestre anterior, acima do agregado do PIB, e de 3% em relação ao primeiro tri de 2023. A indústria, por sua vez, teve desempenho abaixo do esperado, com a transformação sinalizando recuperação gradual, crescendo 0,7% em relação quarto tri, mas extrativa e construção civil contraindo, respectivamente, -0,5% e -0,4%.
Do lado da demanda, o consumo das famílias demonstrou vigor, crescendo 1,5% em relação ao trimestre anterior. Investimentos cresceram 4,1% na mesma comparação, e também se destacaram as importações, com alta de 6,5%, diante de um desempenho menos vigoroso das exportações (0,2%). No caso das importações, Silvia Matos, coordenadora do Boletim Macro FGV IBRE, destacou que se trata de um “vazamento de demanda” esperado, condizente com os sinais de recuperação da indústria e do investimento.
Para Matos, o maior ponto de atenção se concentra no consumo das famílias, para o qual colaboram um bom momento do mercado de trabalho, o aumento do rendimento médio, bem como a política de reajuste real do salário mínimo, que também reflete ganhos para aposentados e pensionistas. Sem um aumento da produtividade da economia no mesmo ritmo, ela lembra que esses ganhos podem gerar pressão inflacionária adiante, anulando os efeitos positivos para a população. “Hoje vivemos um processo desinflacionário incompleto (lei mais na cobertura do X Seminário de Política Monetária), com a perspectiva de gastos públicos elevados e a inflação de serviços ainda resistente. Percebemos que tudo caminha para que o Banco Central realmente freie o corte de juros que observamos até aqui”, diz.
PIB do primeiro trimestre de 2024 (%)
Fonte: IBGE.
Matos afirma que, diante dessa perspectiva de interrupção da queda da Selic, e com o impacto das enchentes no Rio Grande do Sul, a projeção para o PIB de 2024 do Boletim Macro se mantém em 2%, pese o melhor desempenho da atividade no primeiro trimestre. Livio Ribeiro, pesquisador associado do FGV IBRE, sócio da consultoria BRCG, destaca que a tragédia climática no Sul trará choque negativo para o segundo trimestre, com recuperação na segunda metade do ano ajudada pelos desembolsos públicos previstos para recuperação da infraestrutura nos municípios mais atingidos, empresas e apoio às famílias desabrigadas. Há duas semanas, Livio e Matheus Ribeiro, da BRCG, divulgaram resultados de um modelo que prevê que os gastos do governo federal para recompor o Rio Grande do Sul devem girar em torno de R$ 70 bilhões – o que não inclui medidas como suspensão de cobrança de dívidas, liberação do FGTS ou renúncias fiscais. Caso assuma uma postura mais ativa, esse gasto poderia chegar a R$ 117,8 bilhões. Independentemente do nível de gastos, entretanto, para 2024 Ribeiro estima que o saldo líquido da tragédia gaúcha tenda a ser negativo para o PIB;
Em entrevista ao Valor Econômico (link aqui, acesso restrito a assinantes do jornal) Silvia Matos ainda fez projeções para o crescimento do PIB per capita, já considerando o aumento da população pelo Censo 2022 do IBGE, de 0,45% por ano. No primeiro trimestre, ela calcula que o PIB per capital cresceu 0,7% em relação ao trimestre anterior. Para o ano de 2024, Matos projeta alta de 1,56%, para um crescimento de 2% do PIB. Matos lembra que esse resultado é superior à média anual entre 2013 e 2023, de 0,2%, mas indica que ainda é um nível abaixo do necessário para manter um crescimento sustentado diante do gradual envelhecimento da população brasileira. “Envelhecer sem ficar rico é ruim”, afirmou ao jornal, ressaltando a importância da educação para o aumento da produtividade da economia brasileira. “Tudo indica que a produtividade vai crescer menos este ano, devido à composição do emprego, em setores menos eficientes e sem o mesmo desempenho do agronegócio que em 2023”, ressaltou, indicando que novos números da evolução da produtividade brasileira calculados pelo Observatório da Produtividade Regis Bonelli serão divulgados na próxima semana.
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