Petróleo e carros elétricos: pesos opostos na balança comercial brasileira no primeiro semestre
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Postado por Conjuntura Econômica
Por Solange Monteiro, do Rio de Janeiro
Petróleo e carros elétricos, que costumam habitar lados opostos quando o tema é transição energética, também pesaram em pratos diferentes na balança comercial brasileira no primeiro semestre do ano – que fechou com superávit de US$ 42,3 bilhões.
De acordo ao Icomex de junho, divulgado pelo FGV IBRE nesta quarta-feira (17/6), em termos de volume as exportações de petróleo e derivados registraram alta de 26,6% em relação ao mesmo período de 2023, colaborando para a indústria extrativa superar a contribuição do setor agropecuário nas vendas externas brasileiras de commodities. O petróleo bruto foi o principal produto brasileiro exportado aos Estados Unidos (16%do total), país que liderou entre os destinos das vendas brasileiras na primeira parte do ano, em termos de volume. “Se observarmos, tivemos períodos em que o minério de ferro liderou as exportações, outro da soja – muito puxados pela demanda chinesa – e agora vemos o petróleo se destacar”, afirma Lia Valls, coordenadora do Icomex, lembrando que essa tendência poderá prevalecer nesta década, puxada pela exploração do pré-sal. Enquanto petróleo e minerais somaram alta de 19,2% em volume embarcado do acumulado de janeiro a junho em relação ao mesmo período de 2023, as exportações da agropecuária subiram 4,7%. Já a indústria de transformação registrou alta de 1,2% na comparação semestral.
A indústria extrativa também se beneficiou com um desempenho melhor em termos de preços, com um aumento de 1,7% no primeiro semestre em relação a 2023, contra um recuou de 16,6% nos preços dos produtos agropecuários no mesmo período. Em termos de participação nas exportações, a indústria extrativa contribuiu com 25,4% do valor total; a agropecuária, 22%. A indústria de transformação respondeu por 52,6%, sendo metade desse percentual relativo ao processamento de commodities.
Variação (%) no volume das exportações por mercados
petróleo bruto é principal produto brasileiro vendido aos Estados Unidos
Fonte: Icomex FGV IBRE.
O superávit da primeira metade deste ano é US$ 2,3 bilhões menor do que em 2023, aponta o Icomex, resultado de uma variação menor do valor exportado (1,4%) em relação ao das importações (3,9%). Em volume, as altas foram de, respectivamente, 5,6% e 12,2%.
Entre as importações do semestre, o destaque vai para os carros elétricos chineses, que colaboraram para que a categoria bens duráveis dessem “a maior contribuição para o aumento das importações, de 65,6%”, diz o Icomex. “Apesar de os bens intermediários terem maior participação, registraram queda de 2,1% no valor importado”, completa. As importações de veículos chineses apresentaram dinamismo durante todo o período. Em abril, por exemplo, as encomendas em volume 13 vezes maior do que no mesmo mês de 2023 – totalizando 40,9 mil veículos, entre elétricos e híbridos – fez com que o Brasil superasse a Bélgica como principal destino de exportação desses veículos fabricados na China. Dados da Anfavea indicam que, de janeiro a maio, o emplacamento de carros chineses em geral registou aumento de 510% em relação a 2023, sendo a China a responsável por 85% do crescimento das importações. Em junho, dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) indicam que as importações totais de veículos de passageiros registraram alta de 473% em quantidade e 432% em valor em relação ao mesmo mês de 2023, representando o principal produto importado, com 8,9% de participação, superando os óleos combustíveis, com 5,8%. Lia Valls destaca que a participação dos produtos chineses nessa alta pode ter sido impulsionada pelo cronograma de recomposição das alíquotas de importação para carros elétricos, híbridos e híbridos plug-in pelo Brasil, iniciada em janeiro, com 10%; subindo para 18% em julho, 25% em julho de 2025, até chegar a 35% em julho de 2026. As alíquotas serão aplicadas todas as vezes que os valores importados excederem a cota estipulada, que evoluirá regressivamente, nas mesmas datas: US$ 283 milhões (julho deste ano), US$ 226 milhões e US$ 141 milhões em 2026.
Variação (%) no volume das importações por mercados
carros elétricos impulsionam desempenho chinês
Fonte: Icomex FGV IBRE.
Lia reconhece que a evolução desse segmento – seja com a importação de elétricos, seja com a reação da indústria no Brasil nesse nicho –, poderá influenciar a retomada das trocas comerciais com a Argentina quando o país se recuperar da atual crise econômica, refletida em uma importante retração nas exportações brasileiras registrada no primeiro semestre do ano. O Icomex aponta queda de 36,5% no volume de exportações ao país no período em relação à primeira metade de 2023, sendo mais intenso na ponta, com -52,6% em junho na comparação com junho do ano passado. No caso de veículos de passageiro e autopartes e acessórios, que representam 12% das exportações brasileiras à Argentina, a queda nos embarques de janeiro a junho em relação a 2023 foram, respectivamente, de 14% e 26%, cita Lia. Para esse resultado, há também a contribuição da soja, que representou 12% das exportações brasileiras para a Argentina nesse período em 2023, quando o país enfrentou uma seca severa que comprometeu sua safra. Neste ano, essa participação caiu para 1% do total. “O contexto, de fato, é de queda generalizada, com -0,28% nas vendas de minério de ferro, de 10% no caso de veículos rodoviários e de 12% em máquinas e equipamentos”, cita Lia, ilustrando outros produtos relevantes nas exportações brasileiras ao vizinho.
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