Pesquisadora aponta o ônus que a maternidade implica para a empregabilidade e a renda das mulheres no Brasil
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Postado por Conjuntura Econômica
Por Solange Monteiro, do Rio de Janeiro
Novo estudo da pesquisadora do FGV IBRE Janaína Feijó, especialista em questões de gênero e raça no mercado de trabalho, joga luzes nos impactos que a maternidade implica para as mulheres em sua vida profissional. O levantamento, repercutido na semana passada pelo jornal Valor Econômico (link aqui, acesso restrito a assinantes do jornal), mostra que as mulheres que têm filhos são maioria nas ocupações de menor rendimento, minoria naquelas que provêm melhores salários, e respondem pela maior fatia das pessoas que estão fora da força de trabalho no Brasil.
Com base nos microdados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio Contínua (PNAD C) do IBGE, Feijó identificou que a maternidade tem representado um ônus em termos de empregabilidade e renda das mulheres, enquanto para os homens a condição de ter filhos pode afetar positivamente em sua vida laboral.
Participação de mulheres com filhos nas ocupações de maiores salários é menor
Fonte: PNADC elaborado por FGV IBRE; amotra: pessoas de referência e cônjuges com 18 a 60 anos.
No Brasil, entre a população que trabalha em ocupações de maior rendimento médio, como médicos, diretores e gerentes, as mulheres em gera representam 38% do total e as mães, 23%. Já para os homens esses percentuais são de respectivamente, 62% e 33%. Feijó identificou uma diferença significativa entre o salário médio recebido por pais e mães que ocupam uma mesma posição. Entre médicos, por exemplo, a diferença entre o rendimento médio habitual real de pais e mães é de 24%. Ente professores universitários – única atividade entre os maiores rendimentos na qual as mães superam os pais em participação – a diferença chega a 36%. Os dados se referem ao quarto trimestre de 2023, que são os últimos disponíveis.
Já entre as ocupações com menor rendimento médio, como cozinheiros e operadores de caixa, 51% estão preenchidas por mulheres mães – a participação de mulheres em geral é de 74% –, enquanto os pais perfazem 14% do total. As mulheres mães também são maioria no total da população que está fora da força de trabalho – ou seja, que nem está empregada, nem busca emprego. Enquanto a taxa de participação de mães no mercado de trabalho estava em 65,2% no último trimestre de 2023, para 73,2% entre mulheres sem filhos, a dos pais chegava a 92,2%, contra 87,8% para homens sem filhos. Feijó destaca que que a diferença da taxa de participação de mães no mercado de trabalho não retomou o nível pré-pandemia, fechando 2023 1,6 ponto abaixo do nível registrado no final de 2019, enquanto a participação de pais já se equiparou. Ela também destacou ao Valor que a diferença da participação entre pais e mães no mercado de trabalho registrava uma trajetória cadente entre 2012 e 2019, que foi interrompida na pandemia. Esse diferencial era de 25,2 pontos percentuais no fim de 2019, o menor registrado, e subiu para 26,9 pontos no quarto tri de 2023.
Rendimento médio habitual real
(em R$)
Idade média em que teve o primeiro filho
Fonte: PNADC elaborado por FGV IBRE; amotra: pessoas de referência e cônjuges com 18 a 60 anos.
Entre os fatores que a pesquisadora do IBRE destacou nesse levantamento recente que podem levar a um prejuízo para o capital humano acumulado pelas mulheres mães está o fato de estas terem filho mais jovens do que os homens, o que implica um menor tempo livre para formação e acúmulo de experiência antes de assumir um filho. O rendimento de mães e pais que tiveram filhos mais tarde, mostra o levantamento, tende a ser maior. Após a maternidade, é mais comum que mulheres busquem atividades remuneradas mais flexíveis para conciliar as responsabilidades na criação das crianças, culturalmente concentradas nas mães, o que geralmente gera um ônus em termos de renda e de carreira profissional.
Recentemente, Fabio Giambiagi, em texto de discussão de sua coautoria em que aponta a necessidade de uma nova reforma da Previdência que equipare a idade mínima de aposentadoria de homens e mulheres, defendeu uma mudança na licença-maternidade (leia mais aqui) . A proposta é ampliar de quatro para oito meses e transformando-a em parental, o que permite que sua titularidade seja passada para o pai em determinado período. A proposta pode ser uma alternativa para transformar a convenção de gênero que concentra a responsabilidade da criação de um filho na figura materna. “Além disso, é o melhor período para que elas recebam uma compensação pelo ônus físico e financeiro que a maternidade representa”, diz.
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