Para Nelson Marconi, fim das políticas compensatórias também depende de taxa de juros menor
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Postado por Conjuntura Econômica
Por Solange Monteiro, do Rio de Janeiro
Nos últimos meses, em que a preocupação sobre o equilíbrio fiscal tem tomado a atenção dos pesquisadores, o economista Nelson Marconi (FGV Eaesp), tem dedicado seus artigos na Conjuntura Econômica para apresentar contrapontos no campo da política monetária. Em novembro, defendeu que a meta de inflação, de 3% ao ano, é incompatível com a atual estrutura de preços da economia brasileira, e mantê-la implica custos (leia mais aqui). Na Conjuntura de janeiro, Marconi defende que, com uma meta de inflação mais realista e uma taxa de juros menor, abre-se caminho para que o governo invista menos em políticas expansionistas, que em sua visão são compensatórias a esse quadro de juros excessivamente altos, como estratégia de crescimento.
Para Marconi, a somatória de juros altos e política expansionista tem como resultado “o pior dos mundos”. Diz Marconi: “Ambas as políticas implicam em elevação da dívida pública, deterioram as expectativas, criam espaço para movimentos especulativos – facilitados pela fragilidade de nossa regulamentação sobre os mercados de moeda estrangeira -, pressionam a taxa de câmbio, a inflação, novamente os juros e a dívida....e assim segue o processo”.
Marconi reconhece que, no campo fiscal, chegou-se a um limite para a atual estratégia expansionista. Para o economista, é necessário um ajuste “que combine elevação das receitas sobre os mais ricos, redução de desonerações, subsídios e emendas parlamentares e um controle mais estrito da evolução dos gastos que aumentaram acentuadamente nos últimos anos, bem como, no futuro, a definição de novas regras previdenciárias e a recuperação do mercado de empregos formais para recuperar sua correspondente arrecadação”. Ele reconhece os desafios envolvidos em uma agenda dessa natureza, mas defende que não é impossível, se negociada dentro de “um projeto mais amplo de desenvolvimento”. Para ele, somada a uma mudança na meta de inflação e redução da taxa de juros, essa mudança abriria caminho “para a retomada dos investimentos públicos e a expansão dos investimentos privados, que diminuirão a necessidade de políticas compensatórias orientadas aos mais pobres (sem, logicamente, eliminá-las)”.
Total de despesas nominais do Governo Central
acumulado jan/out - R$ bilhões - valores out/24
Fonte: Secretaria do Tesouro Nacional, cálculos do autor.
Em seu artigo, Marconi apresenta uma detalhada decomposição do crescimento brasileiro em 2024 até o terceiro trimestre, comparando-o a períodos anteriores. A partir dela, constata que uma significativa contribuição para a recente alta da atividade, do emprego e da renda das famílias veio dos gastos do governo, “que cresceram consideravelmente nos últimos anos (2022-2024), atingindo uma variação real de 11,5 % no conceito primário e de 20,4% quando incluímos os juros na conta (conceito nominal)”. Os investimentos, apesar de registrarem recuperação, ainda partem de uma base de comparação baixa. Diz Marconi:
“Nota-se que nos dois últimos anos houve um forte crescimento dos gastos com programas sociais (que estimulam o consumo das famílias), saúde, educação e juros – os quais, não esqueçamos, são uma fonte de renda para aqueles que conseguem poupar na sociedade; não é à toa que o setor de atividades financeiras tenha registrado o segundo maior crescimento no período 2022-24 e as vendas de automóveis, normalmente associadas aos consumidores de renda mais elevada, tenham apresentado bons resultados. Saúde e educação também foram setores que cresceram e apresentaram elevação substancial no emprego. Outros setores de serviços e mesmo o comércio e a produção de manufaturas associadas ao crescimento da renda das famílias, como alimentos, foram beneficiados pelo aumento dos gastos sociais, que geram um efeito multiplicador para outros setores e agentes econômicos.”
Dessa forma, defende, demonstra-se que a política econômica praticada “vem, mais uma vez, associando juros altos, gastos financeiros elevados e políticas sociais compensatórias, visando conciliar o inconciliável”.
Leia a íntegra do artigo de Nelson Marconi na Conjuntura Econômica de janeiro.
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