Mercado de trabalho: melhora é disseminada entre regiões, mas taxa de participação ainda não voltou ao pré-pandemia

Por Solange Monteiro, do Rio de Janeiro

O bom desempenho do mercado de trabalho brasileiro em 2024 é um dos destaques positivos de 2024, ainda que sua sustentabilidade no próximo ano esteja em xeque, posto que o superaquecimento da economia foi um dos elementos que colaborou para que a taxa de desemprego alcançasse níveis muito baixos na série histórica da PNAD Contínua, iniciada em 2012.

Na edição de dezembro do Boletim Macro do FGV IBRE, os pesquisadores Janaína Feijó e Paulo Peruchetti analisaram essa evolução recente no nível regional, com dados do terceiro trimestre do ano, quando a população ocupada bateu recorde, somando 130 milhões de trabalhadores.

Feijó e Peruchetti indicam que todas as regiões colaboraram para a melhora dos indicadores. Em comparação com o quatro trimestre de 2019,  pré-pandemia, as regiões que mais reduziram o desemprego foram o Sudeste – com -5.3 pontos percentuais (p.p.) – e o Nordeste (-5.1 p.p.). Juntas, essas regiões concentram mais de dois terços da população ocupada do país, com 45% (46,2 milhões) no Sudeste e 22,7% no Nordeste, equivalentes a 23,4 milhões de pessoas.  O Nordeste continua marcando a maior taxa de desemprego, 8,7% no terceiro trimestre do ano, mas as clássicas disparidades regionais têm se atenuado, destacam os pesquisadores. Eles ilustram que o Nordeste apresentou expansão sustentada dessa taxa de ocupação nos últimos quatro trimestres consecutivos. “Atualmente, sua população ocupada está 4% maior do que o registrado no mesmo trimestre do ano anterior, crescimento acima do observado para o Sudeste (2,9%), Sul (2,9%) e Centro-Oeste (2,2%), mas inferior ao do Norte (4,2%)”, indicam no texto.

Os pesquisadores do FGV IBRE apontam que outros indicadores do mercado de trabalho também registram uma melhora, caso das taxas de subutilização e de desalento das regiões brasileiras. Depois de registrar picos na pandemia, o indicador de subutilização tomou trajetória declinante e no terceiro tri chegou a 15,7%, menor valor da série iniciada no quarto trimestre de 2015. A taxa de subutilização – que representa “a porcentagem que o grupo de pessoas desempregadas, subocupadas por insuficiência de horas trabalhadas ou que integram a força de trabalho potencial representa dentro da força de trabalho ampliada (pessoas na força de trabalho somadas à força de trabalho potencial)” registrou esse mesmo comportamento recorde em todas as regiões, exceto no Nordeste, que também é a região com maior proporção de subutilizados (25,8%).

No caso do desalento – “porcentagem que o grupo de pessoas que gostariam de trabalhar e estariam disponíveis, porém não procuraram trabalho por acharem que não encontrariam, representa dentro da força de trabalho ampliada” – a taxa também registra uma marcante melhora desde a pandemia. Aqui, também o Nordeste descola das demais regiões, com 6,2% no terceiro tri deste ano, contra uma taxa de 2,7% no Brasil. A região que mais se aproxima é o Norte, com 3,4%.

Panorama melhor, mas ainda desigual
indicadores regionais relativos ao terceiro trimestre de 2024


Fonte: FGV IBRE com microdados da PNAD Contínua; dados de rendimento para comparação deflacionados a preços do 3º tri de 2024.

O rendimento do trabalho é outro indicador que reflete uma melhora do mercado de trabalho disseminada entre as regiões. Todas registram rendimento médio real acima do observado no pré-pandemia, sendo Sul, Norte e Centro-Oeste as que apontam maior crescimento. No Boletim, Feijó e Peruchetti destacam estudo produzido para o Observatório Regis Bonelli, com coautores, que demonstra, através de simulações contrafactuais, que “uma parcela significativa da recuperação da renda real do trabalho no Brasil no pós-pandemia, em particular em 2023, pode ser explicada por uma melhora da composição educacional da população ocupada”. Caso a composição educacional da população ocupada observada no quarto trimestre de 2019 tivesse se mantido constante ao longo dos últimos anos, o crescimento da renda teria sido bem menor. (leia a íntegra do estudo)

Apesar do panorama positivo, os pesquisadores fecham a análise com um ponto de preocupação: a taxa de participação, medida pela razão entre a força de trabalho (ocupados mais desocupados) e população em idade ativa, ainda está abaixo do nível do quarto trimestre de 2019. Eles lembram que, durante as medias de isolamento exigidas na pandemia, essa taxa sofreu queda significativa, “atingindo em 2020 o menor nível da série histórica em todas as regiões brasileiras”. Com o relaxamento das medidas sanitárias, houve a paulatina recuperação até meados de 2022, quando esse movimento perdeu ritmo. “Mesmo tendo voltado a crescer desde o início de 2023, a taxa de participação registrada no 3º trimestre de 2024 ainda ficou abaixo do observado no período pré-pandemia”, destacam, o que ocorre em todas as regiões. Feijó e Peruchetti destacam que esse é um fator preocupante, do que “a expansão da força de trabalho é um componente importante para que a economia consiga crescer de forma sustentada”, e atualmente já se observam dificuldades em alguns setores em preencher vagas de trabalho, o que tem levado a uma elevação de salários.

- Leia a análise completa no Boletim Macro FGV IBRE de dezembro.

- Veja também: Preocupação com escassez de mão de obra qualificada não é exclusiva do setor da construção, apontam as Sondagens do FGV IBRE.

 


As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva do autor, não refletindo necessariamente a opinião institucional da FGV.

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