Indústria: à espera do corte de juros

Por Solange Monteiro, do Rio de Janeiro

Em junho, a indústria brasileira recuperou parte da confiança perdida, ainda com um caminho a percorrer para sair do terreno do pessimismo, como mostra a Sondagem do FGV IBRE divulgada nesta quarta-feira (28/6). O aumento de 1,1 ponto do Índice de Confiança da Indústria, para 94 pontos, refletiu uma melhora da percepção da atividade em 13 dos 19 segmentos pesquisados. “Há também uma melhora tanto da avaliação sobre a situação atual quanto das expectativas em relação aos próximos meses”, comenta Stéfano Pacini, economista do FGV IBRE responsável pela divulgação. Pacini alerta, entretanto, que o  cenário segue desafiador para a indústria, "indicando um ambiente de incerteza quanto ao segundo semestre, ainda que com alguma melhora na demanda”. Na Sondagem de junho, apenas três dos 19 segmentos registraram confiança acima dos 100 pontos, entrando no terreno otimista: derivados de petróleo, farmacêutica e de máquinas e equipamentos.

Pacini ressalta a sensibilidade ao setor aos juros altos, especialmente o segmento de bens duráveis, porque afeta tanto a capacidade das empresas para financiar a produção e novos investimentos quanto a capacidade das famílias de consumir, que em geral lançam mão de crédito para parcelar compras. Custo alto de crédito e nível elevado de endividamento são fatores que tendem a pesar na dinâmica do setor.

Sondagem da Indústria
(em pontos)


Fonte: FGV IBRE.

Além da possibilidade de o ciclo de corte de juros começar em agosto, conforme sinalizado pelo BC na última ata, Pacini destaca o programa do governo de desconto para carros chamados populares também foi importante alívio para parte do setor. “A indústria automotiva foi impactada durante a pandemia – primeiramente pela redução da mobilidade; logo pela falta de insumos como semicondutores e, quando ambas a situações passaram a se normalizar, a conjuntura de inflação e juros altos”, descreve. O economista descreve que o segmento de veículos automotores foi um dos três segmentos industriais que entrou para o grupo dos que revelam níveis de estoque indesejados – que, na Sondagem, é indicado quando supera os 100 pontos. A evolução do índice do setor foi de 12,3 em relação a maio e de 23,7 comparando com setembro, quando a situação dos estoques do setor em geral estava mais estabilizada. No agregado, 14 dos 19 segmentos analisados apontam estoques excessivos, sendo as indústrias de máquinas e materiais elétricos, química e de minerais não-metálicos as que apresentam pior quadro.

O nível dos estoques é um dos indicadores analisados pelos pesquisadores para calcular o indicador que mede a situação atual (ISA), que registrou alta de 0,6 ponto no mês, para 92,4, graças a uma melhora da avaliação dos outros quesitos: nível de demanda, com alta de 2,9 pontos, para 95,3 pontos, e percepção sobre a situação atual dos negócios, que em junho subiu 2,2 pontos, para 98,2 pontos.

Nível de estoques por segmento


Fonte: FGV IBRE. *Indicador Invertido = 100-(100 + estoques excessivos - estoques insuficientes), ou seja, quanto maior o indicador maior o nível dos estoques. Dados padronizados e ajustados sazonalmente.

Pacini ressalta que no Índice de Expectativas (IE) a alta de 1,6 ponto, para 95,6 pontos, veio após duas quedas seguidas. Em março, esse índice estava em 97,5 pontos. Os destaques, nesse caso, foram a melhora da perspectiva de produção prevista para os próximos três meses, e a tendência dos negócios para os próximos seis meses, ambos com alta de 1,7 ponto, para 98,3 e 89,3 pontos, respectivamente. No quesito emprego previsto, o avanço foi de 1,5 ponto, para 99,6 pontos, aproximando-se do nível considerado neutro, de 100 pontos. Já o Nível de Utilização da Capacidade Instalada da Indústria (Nuci) teve ligeira melhora ao crescer 0,3 ponto percentual, para 80,4%.

 


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