Icomex: superávit comercial do Brasil recua, sem sinais de que a culpa seja de Trump

Por Solange Monteiro, do Rio de Janeiro

Entre janeiro e maio deste ano, a balança comercial brasileira registrou um superávit de R$ 24,4 bilhões, R$ 10,8 bilhões menor do que no mesmo acumulado em 2024, aponta o Icomex do FGV IBRE  divulgado esta semana. Diferentemente do que se poderia esperar, esse resultado ainda não se deve à política tarifária do presidente dos EUA Donald Trump. Lia Valls, coordenadora do Icomex, indica que essa piora em relação a 2024 é reflexo de um menor dinamismo das exportações, associado a um recuo nos embarques de commodities. Em volume, as exportações agropecuárias registraram queda de 0,8%, muito em função de atrasos no embarque de soja para a China, diz Valls. As vendas totais do Brasil para o país recuaram 0,3% nos primeiros cinco meses do ano comparado ao resultado de 2024, quando as exportações para a China tinham aumentado 11,5% em relação a 2023.

A indústria extrativa também registrou recuo, de 2,8% no acumulado janeiro a maio em relação ao mesmo período de 2024. Em termos de preços, as exportações do setor extrativo caíram -9,9% no referido período – justificada pela queda nos preços de petróleo e minério de ferro –, enquanto os preços do agro aumentaram 3,4%. Agropecuária e indústria extrativa concentraram a pauta exportadora de commodities, que representou 67% 67% das exportações brasileiras nos primeiros cinco meses do ano.   

No caso dos EUA, o aumento das exportações medido em volume foi de 1,2% em relação a 2024, contra 17,2% na comparação do ano passado com 2023. Valls destaca, entretanto, aumento significativo de embarques brasileiros de semifaturados de ferro e aço, de 32% em maio e de 7,3% no acumulado do ano. Nesse período, ainda não foram incorporadas as tarifas de importação de 50% impostas pelos EUA a esses produtos de qualquer origem exceto Reino Unido. Em maio, a variação em valor foi de 5,6%, menor que no acumulado do ano, de 7,3%. Para Valls, uma resposta para essa queda na margem pode ser de os exportadores brasileiros já sinalizarem uma redução de margens para compartilhar o ônus do aumento de tarifa com seus compradores, ainda que essa nova alíquota ainda não estivesse em vigor.

A pesquisadora destaca que, apesar de avanços positivos nas negociações entre Estados Unidos e China, que abandonaram as tarifas de três dígitos resultante da escalada da guerra comercial para 55% incidentes nas importações chinesas dos EUA, e de 10% da China em relação aos Estados Unidos, são acordos denominados como tréguas, o que mantém a incerteza sobre o futuro das trocas comerciais globais. Para o Brasil, enfatiza, o ponto mais crítico é o da tarifa sobre alumínio e produtos de siderurgia. “Uma reversão irá depender não só de negociações que o Brasil possa fazer, mas de pressões da indústria americana consumidor da produtos siderúrgicos fabricados no Brasil e com oferta insuficiente nos EUA”, afirma. O pior cenário, completa Valls é o de os Trump “usar as tarifas par obter vantagens em áreas como exploração de minerais estratégicos e terras raras ou como instrumento de pressão em relação a investimentos ou importações chinesas”. Por ora, Valls destaca a valorização do real frente ao dólar como elemento que tende a retrair as decisões de importação. “Veja que há um considerável aumento de importações da China”, diz, reforçando que nessa dinâmica ainda não há uma tendência clara de desvio de comércio, “posto que no ano passado também observou-se um aumento de importações brasileiras de produtos chineses”.

 


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