Icomex aponta retomada das exportações da indústria de transformação em 2024
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Postado por Conjuntura Econômica
Por Solange Monteiro, do Rio de Janeiro
Diferentemente de 2023, quando o boom agrícola levou o setor a liderar as exportações e a contribuição para o superávit comercial brasileiro, de US$ 98,8 bilhões, enquanto a indústria de transformação registrou contribuição negativa, 2024 marca a recuperação da indústria da transformação. Dados do Indicador de Comércio Exterior (Icomex) do FGV IBRE mostram que, no acumulado de janeiro a novembro, a transformação registrou alta de 3,8% em volume exportado – puxada pelos segmentos de alimentos, máquinas e equipamentos e produtos de madeira –, perdendo apenas para a indústria extrativa, com alta de 10,5%, enquanto a agropecuária registra queda de -0,1%. O setor ainda foi o único a registrar variação positiva em termos de preços no acumulado do ano até novembro, com 0,4%, contra queda de 3,5% na indústria extrativa e de 12,7% na agropecuária.
O saldo total da balança comercial até novembro de 2024 foi de US$ 69,9 bilhões, inferior em US$ 19,4 bilhões em igual período do ano anterior. O Icomex destaca, entretanto, que a corrente de comércio foi maior, impulsionada pelo aumento das importações. Bens duráveis liderou a alta de volume importado, com aumento de 53,4% em relação a janeiro-novembro de 2023, seguido por semiduráveis (alta de 27,7% na mesma comparação), bens de capital (23,8%), intermediários (14,5%) e bens não-duráveis (10%). Na indústria de transformação, a demanda por importações foi liderada por máquinas e equipamentos (alta de 23,3% em relação a jan-nov de 2023), seguida por bens intermediários (15%). No agro, por sua vez, o Icomex mostra queda na demanda por máquinas e equipamentos em relação aos primeiros 11 meses do ano passado, com -7,4%, e alta no volume importado de bens intermediários (7,7%).
Variação (%) dos índices de exportação por tipo de atividade
jan-nov 2024 em relação a igual período de 2023
Fonte: FGV IBRE.
Em entrevista para o Valor Econômico publicada nesta segunda-feira (16/12) (link aqui, acesso restrito a assinantes do jornal), Lia Valls, pesquisadora associada do FGV IBRE que coordena o Icomex, destacou que a continuidade desse cenário em 2025 é coberta de incertezas, a começar pela política comercial que Donald Trump pretende aplicar nos EUA. Ao jornal, ela declarou que “se Trump começar a ‘perseguir’ países com maior comércio com a China, ou algo nesse sentido, não será positivo para nós”. A matéria também destaca que um cenário com taxas de juros persistentemente altas também prejudica a manutenção dessa trajetória, em especial a setores sensíveis à oferta de crédito.
Variação (%) no volume de exportações por mercados
jan-nov 2024 em relação a igual período de 2023
Fonte: FGV IBRE.
No Icomex de outubro, os pesquisadores do FGV IBRE haviam levantado um panorama preliminar sobre os setores exportadores brasileiros que mais poderiam sofrer com uma política linha dura na nova administração Trump (leia mais aqui). Este mês, o Icomex aponta que de janeiro a novembro o volume de exportações aos Estados Unidos cresceu 10,7% em relação ao mesmo período de 2023. Para a China, essa variação foi de 1,2% - a menor de todas excluindo a América do Sul, que teve resultado negativo no acumulado do ano, puxado em especial pela Argentina, que registra queda de 20,1% no volume importado do Brasil.
Em evento promovido pelo O Estado de S. Paulo em novembro, Valls defendeu que, diante do atual cenário de incertezas para o comércio exterior, será preciso que a política comercial brasileira saiba explorar sua capacidade d influenciar a formação de consensos em temas práticos para o comércio internacional, mesmo sob um contexto de aumento do protecionismo. Leia mais.
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