“A foto é boa, mas é preciso olhar o filme”, afirma Silvia Matos sobre o PIB do segundo trimestre

Por Solange Monteiro, do Rio de Janeiro

Dados do IBGE divulgados nesta terça-feira (4/9) indicam uma aceleração do PIB do segundo trimestre do ano acima da esperada pela mediana do mercado e mesmo pelo Ministério da Fazenda: um avanço de 1,4% na atividade em relação ao primeiro trimestre do ano, levando a alta do PIB no acumulado de 12 meses até junho para 2,5%. Investimentos e consumo das famílias tiveram importante papel nesse resultado com expansão de 2,1% e 1,3%, respectivamente, na mesma comparação com o trimestre anterior. Pelo lado da oferta, destaca-se uma alta disseminada em todos os segmentos do setor de serviços – que no agregado registrou expansão de 1%, e o bom desempenho da indústria, com alta de 1,3%, impulsionada pelo setor de eletricidade, a construção – com crescimento de 4,4% quando comparado com o mesmo trimestre de 2023 – e as indústrias de transformação.

Apesar da surpresa alvissareira que essa foto revela, e que levou o Ministerio da Fazenda a sinalizar uma revisão para o PIB de 2024 para 2,8% ou mais, Silvia Matos, coordenadora do Boletim macro do FGV IBRE, ressalta que o filme deve trazer sequências menos positivas adiante. “Esse resultado confirma que a economia está crescendo acima do seu potencial – o próprio Banco Central, em relatório de junho, já sinalizava um aperto nas condições. E isso tende a corroborar as projeções que apontam a uma subida da taxa de juros básica em setembro”, afirma, lembrando que esse movimento colocará o país na contramão da direção esperada para os juros nos Estados Unidos, que é de corte. “Um câmbio mais depreciado, uma inflação mais elevada no curto prazo por conta do choque de administrados com a mudança de bandeira para a tarifa de energia elétrica são elementos que deverão manter a inflação acima da meta em um horizonte relevante – mais alta inclusive do que os 3,6% em 2025 projetados na última reunião do Copom”, diz.

A coordenadora do Boletim Macro do IBRE lembra que a necessidade de subir a Selic tende a penalizar a parcela mais virtuosa do crescimento hoje observada, que é a recuperação da taxa de investimento. Com o resultado do segundo trimestre de 2024, o investimento subiu para 16,8% do PIB, contra 16,4% no segundo trimestre de 2023. Um percentual ainda muito abaixo dos 20% observados entre 2010 e 2013, mas com um lado bom, por ter sido impulsionado pela indústria intensiva em capital. “A depender do cenário para os juros, essa tendência não deverá se sustentar. Ou, ainda, pode mudar para uma composição pior, em que prevaleça linhas mais curtas, para segmentos também focados em resultados de mais curto prazo”, afirma, lembrando que projetos estruturantes dos quais o país carece demandam outro perfil de financiamento. “O problema, entretanto, é que a economia está muito aquecida, e a política fiscal cobra seu preço”, conclui.

 

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