Exportações: cenário positivo no início de ano, com desafios à frente
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Postado por Conjuntura Econômica
Por Solange Monteiro, do Rio de Janeiro
O ano de 2024 começou bem para as exportações brasileiras. De acordo à Secretaria de Comércio Exterior do MDIC, até a terceira semana de fevereiro as vendas brasileiras para o exterior totalizaram US$ 40,26 bilhões, com saldo positivo de US$ 8,89 bi na balança comercial. Ainda que os principais produtos e os destinos tenham sido preservados, colaborou para esse resultado certa diversificação da cesta, bem como de destinos.
O Icomex do FGV IBRE que analisa os resultados de janeiro – mês em que o país cravou outro superávit recorde – ilustra bem essa participação. O destaque ficou com o setor extrativo, puxado pelas vendas de petróleo bruto, que nesse mês registrou um aumento de 53,4% em valor em relação ao mesmo período de 2022 e representou 17,8% do total exportado, bem como pelas compras chinesas de minério de ferro, demanda que passou a se destacar a partir do meio do segundo semestre de 2023, ressalta Lia Valls, pesquisadora associada do FGV IBRE, coordenadora do Icomex. Em janeiro, enquanto as exportações do setor agropecuário – grande estrela do comércio exterior brasileiro em 2023 – registraram uma significativa queda no preço em relação a 2023, de 13,2%, e um aumento de volume de 5,9%, o setor extrativo registrou aumento de 44% no volume exportado, e de 33% no preço. No caso do agro, analistas já apontam que preços baixos têm levado a lentidão nas negociações de embarques, fator que deve se somar a problemas na safra, devido a impactos climáticos (tema da Conjuntura Econômica de dezembro), elemento que tem pesado negativamente nos cálculos do PIB deste ano.
Variação (%) das exportações brasileiras para os seus principais mercados: janeiro 2023/2024
Elaboração: FGV IBRE. Base ICOMEX. Fonte: Secretaria de Comércio Exterior/MDIC.
A manutenção da forte demanda pelo minério brasileiro, por sua vez, dependerá da dinâmica econômica do país e dos planos do governo chinês para este ano, se manterão medidas de estímulo no campo da infraestrutura. Livio Ribeiro, pesquisador do FGV IBRE ressalta que um dos principais sinais nesse sentido virá em março, quando o governo divulgará a meta de crescimento para 2024. Observando o otimismo refletido nas metas subnacionais já anunciadas, diz Ribeiro, é possível que o governo opte por dobrar a aposta nas políticas operadas até agora, pouco atenta à demanda, o que para os chineses pode trazer mais ruídos do que soluções, afirma. A projeção de Ribeiro para o PIB chinês este ano é de alta de 4,5%.
Há outros mercados, entretanto, em que a queda das exportações parece já estar contratada. O exemplo mais contundente é o da vizinha Argentina, destino em que se destaca o comércio intrafirmas, para a qual as vendas brasileiras registraram queda de 25,4% em janeiro. Outro destino marcado por um resultado negativo neste começo de ano é a União Europeia, com -18,7%. “Neste caso, a dinâmica econômica do bloco tampouco tende a favorecer uma reação rápida”, diz Lia.
Principais produtos embarcados
*Em relação a igual período de 2023. Fonte: MDIC.
Por ora, colaboraram para mitigar essas perdas um aumento da participação de outros produtos, como algodão, café e açúcar, bem como de destinos. O Icomex destaca, por exemplo, que a soma dos saldos positivos do comércio com África, Oriente Médio e América do Sul (excluindo Argentina) somaram US$ 2,4 bilhões. “Somado ao US$ 1,2 bilhão com a Ásia exclusive China, somamos um superávit de US$ 3,6 bilhões, superior aos US$ 2,7 bi registrados no comércio Brasil-China”, compara, reforçando a importância de o país perseguir a posição de global trader. “Para esses destinos, os destaques também são commodities, mas ainda assim é um avanço. No caso da África, por exemplo, nosso superávit era menor por causa de nossas importações de petróleo, cenário que vai se revertendo”, diz. Já para a África do Sul, em 2023 destacaram-se vendas de carne (14%) açúcar (10%), além de veículos e máquinas agrícolas.
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