Em webinar, pesquisadores do FGV IBRE apontam fraco desempenho da produtividade em 2024

Por Solange Monteiro, do Rio de Janeiro

Pesquisadores do FGV IBRE reunidos no webinar “Produtividade e Mercado de Trabalho”, promovido pelo IBRE em parceria com o jornal Valor Econômico, reforçaram os sinais de desaceleração no avanço da produtividade em 2024 em relação a 2023, indicando que o expressivo desempenho observado no ano passado está longe de ser sustentável.

Silvia Matos, coordenadora do Boletim Macro IBRE, afirmou que a produtividade por hora efetivamente trabalhada registrou alta de 0,1% no terceiro trimestre em relação ao mesmo período de 2023. Matos explicou que esse percentual é a resultante da comparação entre o valor adicionado – que exclui da conta do PIB a parcela dos impostos e subsídios – e o dado de horas efetivamente trabalhadas da PNAD Contínua. “Enquanto o valor adicionado cresceu 3,7%, o fator trabalho, medido em horas efetivamente trabalhadas, teve alta de 3,6%. Com isso, a produtividade do trabalho em termos interanuais cresceu 0,1%”, detalhou. “No acumulado do ano até o terceiro trimestre, esse crescimento é de 0,3% em relação ao mesmo período de 2023”, complementou a economista, reforçando os sinais de desaceleração.

A economista lembra que no ano passado a produtividade do trabalho registrou crescimento de 2,3% - número que já considera a revisão do PIB, para 3,2% - impulsionada pela agropecuária. Sem o mesmo vigor do agro este ano, a produtividade ficou mais dependente do desempenho do setor de serviços, que concentra 72% do emprego – e que no acumulado do ano também registrou alta de 0,3%. “Observando o crescimento desde o último trimestre de 2019 até o terceiro tri deste ano, observamos que a produtividade está 2% acima do nível pré-pandemia. Mas é um crescimento que de fato está perdendo vigor.”

O resultado para a produtividade total dos fatores – que avalia a eficiência da economia, observando tanto o desempenho do trabalho quando do uso do capital – reforça esse diagnóstico, diz Matos. “O resultado é pior do que o que a gente tinha visto ao longo deste ano nas outras divulgações, com uma contração de 0,8% interanual, e de -0,2% em relação ao segundo trimestre deste ano”, afirmou, reforçando que todos os cálculos tomam como base as horas efetivamente trabalhadas. “São sinais preocupantes, pois uma economia que cresce sem produtividade não cresce de forma sustentável, gerando mais inflação”, destacou, afirmando que a projeção para o PIB de 2024 publicada no Boletim Macro de novembro é de 3,5%, “muito acima do potencial da economia brasileira”, destacou no evento moderado por Sergio Lamucci, editor-executivo do Valor.

Produtividade do trabalho
variação (%) em relação ao mesmo trimestre do ano anterior, por hora efetiva


Fonte: Observatório da Produtividade Regis Bonelli, FGV IBRE.

Fernando Veloso, coordenador do Observatório da Produtividade Regis Bonelli, comparou o desempenho da produtividade de 2023-24 com o período 2017-18, quando a produtividade registrou crescimento de, respectivamente, 2,1% e 0,5% - para depois cair 1,5% em 2019. Mau presságio para 2025? Não necessariamente. Nesse ponto, Veloso se considera mais otimista, destacando a melhora do desempenho do mercado de trabalho, que pode ter características estruturais, graças à reforma trabalhista de 2017. “Ainda que a taxa de desemprego certamente esteja abaixo da taxa de equilíbrio, ainda assim acho que hoje a taxa de desemprego de equilíbrio é menor”, disse, o que também implica uma condição melhor para o mercado de trabalho Por outro lado, alerta para um quadro fiscal que considera mais desafiador. “Em 2017/18 tínhamos acabado de aprovar o teto de gastos (2016), que estava controlando o crescimento das despesas, colaborando para a queda das taxas de juros curtas e de longo prazo. Hoje, entretanto, somamos a aprovação da PEC da Transição (2022), que aumentou os gastos públicos em quase 2 pontos percentuais do PIB, a aprovação de um novo arcabouço que já se provou insuficiente, e previsões de mercado que apontam um aumento da relação da dívida/PIB de 12 pontos percentuais do PIB até o final do atual governo”, afirmou, indicando que desequilíbrio nas contas públicas é contrário a crescimento sustentado.

Fernando de Holanda Barbosa Filho, pesquisador do FGV IBRE, apontou que a surpresa observada em 2024 no mercado de trabalho – com uma taxa de desemprego de 6,2% trimestre encerrado em outubro, a menos da série histórica da PNAD-C – também é reflexo desse quadro de superaquecimento da economia, mas que não tende a se sustentar. “O impulso fiscal observado ao longo do primeiro semestre do ano promoveu uma atividade econômica mais forte, que é a única coisa que gera emprego de forma expressiva”, afirmou, destacando ainda o alto nível de formalidade observado nessa dinâmica atual. “A saída da crise de 2015-16 aconteceu com uma geração de emprego basicamente informal”, lembrou, reforçando que a atual evolução é beneficiada por mudanças no mercado depois da reforma trabalhista, bem como a estimativa de Veloso de que hoje o Brsail conta com uma taxa de desemprego de equilíbrio – a que não provoca pressões inflacionárias – menor. “Essa dinâmica é muito favorável à produtividade, porque em geral o trabalhador formal tem um nível mais elevado de escolaridade, que pode ser mais produtivo.” Barbosa Filho também destacou o aumento da taxa de participação, outro indicativo de um mercado aquecido, já que quando um contingente alto de pessoas em idade de trabalhar deixa de procurar emprego pode gerar um efeito falso de melhora do mercado de trabalho, pois estas saem das estatísticas de desemprego.

O pesquisador destacou, entretanto, a pressão que esse mercado aquecido já provoca em termos de aumento de salários em nível acima do da produtividade. “Isso obviamente gera pressões na economia como um todo, principalmente pressões inflacionárias. A geração de postos de trabalho medida pelo Caged já soma 2,1 milhões. Levando em conta que os meses de  novembro e dezembro costumam contribuir negativamente para a conta, é possível que esse número feche o ano em 2 milhões. Com uma taxa de desemprego em 6,2%, e uma taxa de crescimento média da renda entre 4% e 5% ao ano, muito acima da produtividade do trabalho, trata-se de um quadro que gera pressões inflacionárias, o que vai acabar desencadeando numa condução da política monetária que vai demandar mais juros”, afirmou. A decisão do Copom anunciada na tarde da realização do webinar comprovou essa direção, com alta de 1 ponto percentual da Selic, para 12,25% ao ano. Se o PIB cresce e as horas trabalhadas também crescem fortemente, a produtividade se expande pouco. “Infelizmente, esse é o padrão do mercado de trabalho brasileiro. Excluindo picos e vales, a expansão é pequena, abaixo de 0,5% ao ano. Com uma PTF também estagnada, é um mau sinal diante do desafio de se manter um crescimento sustentável no longo prazo.”

Reveja o webinar Produtividade e Mercado de Trabalho.

 


As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva do autor, não refletindo necessariamente a opinião institucional da FGV.

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