Em Foco

Para onde estamos indo?

Por Claudio Conceição, do Rio de Janeiro

Só em março vamos saber quanto cresceu o PIB, o Produto Interno Bruto, no ano passado. Começamos com previsões de baixo crescimento que foram sendo ampliadas ao longo dos meses. As projeções do Boletim Macro do FGV IBRE de janeiro apontam para uma expansão de 3,6%, puxada pelo forte consumo das famílias, ampliação dos gastos, mudança para cima da curva de investimentos. Se isso se confirmar, teremos o que os economistas chamam de “carrego estatístico” de 1,3% já para este ano. O que não é nada desprezível. Mas já tem muita gente achando que esse carregamento será engolido por um desempenho ruim da atividade econômica, especialmente a partir do segundo semestre.

Fernando Honorato, economista-chefe do Bradesco, em entrevista ao Portal Novo Norte, acredita que o Brasil entrará em recessão no segundo semestre, já que, embora o setor agropecuário vá impulsionar o PIB no primeiro trimestre, isso será temporário. No segundo trimestre, começaria a desaceleração econômica com queda do consumo e dos investimentos.

É sempre bom olhar com cautela balões de ensaio que são lançados, ou pelo governo, ou pelo mercado, sobre os rumos da atividade econômica. Há muitos interesses, e dinheiro, envolvidos. Mas não dá para negar que o filme de 2025 será bem pior do que o de 2024.

Senão, vejamos.

No ano passado, o PIB cresceu totalmente impulsionado pela demanda interna, diferente do que ocorreu em 2023 quando a demanda externa teve importante papel. No ano passado, houve uma forte retomada da demanda privada, com crescimento do consumo das famílias que avançou mais de 5% e os investimentos chegando perto dos 7%.

Este ano, a composição deve ser outra: haverá uma forte retomada da agropecuária e da indústria extrativa. É sempre bom lembrar que a expansão da agropecuária puxa outros setores como a agroindústria e o agro serviços. Segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada - CEPEA-Esalq/USP, o PIB do agronegócio deve representar em torno de 25% do PIB brasileiro. E os demais setores que dependem da demanda, como bens duráveis, bens de capital, construção civil e demais serviços que cresceram muito no ano passado vão manter o mesmo fôlego?

Silvia Matos, coordenadora do Boletim Macro FGV IBRE, acredita que haverá uma desaceleração relevante desses segmentos. Mas os números, hoje, apontam mais para um baixo crescimento do que para uma recessão. Mesmo a economia esfriando, a massa ampliada de rendimentos (salários e benefícios sociais) pode crescer em torno de 4%, em termos reais, este ano. Estima-se que no ano passado o crescimento foi acima de 8%, real.

Para Silvia, o PIB deve crescer 1,8% em 2025, com a agropecuária e a indústria extrativa contribuindo com metade desse crescimento.

Mas há muitas outras pedras pelo caminho. Só citando algumas delas.

A alta dos juros joga mais gasolina na fogueira. Se em boa parte do ano passado a taxa básica de juros esteve abaixo dos 11% 0 mesmo assim elevada –, a partir de novembro elas começaram a subir. Hoje estão em 13,25%, com sinalização de bater em 14,25% na próxima reunião do Comitê de Política Monetária. Muita gente acha que vai chegar aos 15%. Juros mais altos tornam o crédito mais caro e inibem o consumo.

Outro problema: a inflação, onde o grande problema é sua inércia: quando sobe fica difícil voltar a puxá-la para baixo. E o pior disso é a alta dos alimentos, que pesa direto no bolso do consumidor e é componente explosivo para aumentar a rejeição de qualquer político. Na última pesquisa divulgado pelo Instituto PoderData, o presidente Lula foi reprovado por 51% dos entrevistados, e aprovado por 42%.

Outra pesquisa, essa da Genial/Quaest, de 25 de janeiro, apontou uma aprovação de 47% de Lula e desaprovado por 49%. É a primeira vez que o índice de reprovação supera o de aprovação.

O nó da questão é que os alimentos têm subido muito, roubando o poder de compra, especialmente das classes de menor renda. No ano passado, enquanto a inflação oficial medida pelo IPCA, do IBGE, foi de 4,83%, os alimentos subiram 7,69%. Para este ano, as projeções do Boletim Macro são de uma inflação na casa dos 5,7% e de alimentos de 8%. Mas tem gente com números que se aproximam de 9% a 10%.

Inflação


Fonte: IBGE.

Outro problema futuro. O mercado de trabalho fechou 2024 com a menor taxa de desemprego da série. Mas se olharmos os dados com mais atenção, percebe-se que houve um gradativo enfraquecimento, especialmente a partir do segundo semestre, da criação de novos postos de trabalho. Em outubro e novembro, houve queda na criação de novas vagas. Em dezembro a coisa piorou, com fechamento de mais de 500 mil postos de trabalho com carteira assinada, pior mês desde 2020, quando da pandemia da Covid-19. Pegando a Pnad Contínua, no trimestre encerrado em dezembro a taxa de desemprego subiu 6,2%, em comparação ao trimestre fechado em outubro: a primeira alta depois de oito trimestres seguidos de queda. Sinaliza que o desemprego pode voltar a subir.

Um sinal de alerta, que alguns analistas já estão usando para mostrar, junto com outros indicadores, que a economia pode entrar em recessão no segundo semestre.

Há, também, o eterno problema fiscal. O Boletim Macro de janeiro enfatiza que “o menor crescimento econômico e a taxa de juros bem mais elevada vão contribuir para aumentar o déficit nominal e tornar a dinâmica da dívida pública mais insustentável. Esperamos que a dívida bruta atinja 82% do PIB este ano e 86% no ano que vem. É importante destacar que tanto a dívida bruta quanto a dívida líquida devem acelerar: esperamos que esta supere 70% do PIB em 2026.

De acordo com estudo recente do Itaú-BBA3 e previsões do FMI, a expectativa é um aumento da diferença entre a dívida do Brasil e aquela dos demais países emergentes e da OCDE. Adicionalmente, a trajetória também é divergente em relação àquela de outros países de rating semelhante, de acordo com a metodologia do S&P. Ou seja, tudo indica que ficaremos a uma distância ainda maior da retomada do grau de investimento, que seria um grande benefício para o Brasil.

Se não bastasse os problemas internos, temos uma enorme volatilidade externa, turbinada com a posse de Donald Trump e suas medidas e declarações, que está colocando o mundo em polvorosa. Agregar o Canadá, retomar o Canal do Panamá, transformar o Golfo do México em Golfo dos Estados Unidos, tomar a faixa de Gaza e expulsar todos os palestinos. Taxar países – voltou atrás na taxação de produtos canadenses e mexicanos. Cutucar a China com ameaças, taxações. Saída da Organização Mundial de Saúde (OMS), do Acordo de Paris.  É uma confusão generalizada.

Onde isso afeta o Brasil? Ainda ninguém sabe. Mas é certo que incerteza e volatilidade não ajudam em nada.

Mas fica a pergunta. Será que o governo Lula vai deixar a economia sucumbir, já que em 2026 teremos eleições presidenciais? Acho improvável. Como tenho dito, vai se tentar empurrar com a barriga a questão fiscal, fazendo alguns ajustes aqui e acolá. O próprio presidente já disse, no último dia 30, em sua primeira coletiva sob a batuta de Sidônio Palmeira, novo ministro da Secretaria de Comunicação Social da Presidência (Secom), que “não tem outra medida fiscal (...), e que, embora a questão fiscal seja muito importante para o país, o governo só vai discutir novas medidas que vão nesse sentido se houver “a necessidade de fazer algum ajuste”. O que foi muito mal recebido pelo mercado.

 


As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva do autor, não refletindo necessariamente a opinião institucional da FGV.

Subir
Ensino