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Desemprego em queda e renda em alta

Por Claudio Conceição, do Rio de Janeiro

A taxa de desemprego continuou sua tendência de queda, iniciada em meados de 2021. No último trimestre de 2023, a taxa caiu para 7,4%. São cerca de 8 milhões de desempregados, mas a cada trimestre esse número vem recuando. No terceiro trimestre de 2022, a taxa de desemprego era de 7,7%.

A taxa de desemprego do final do ano passado foi a menor desde o trimestre que se encerrou em janeiro de 2015. Ou seja: um resultado excelente. 

Taxa de desemprego


Fonte: IBGE e FGV IBRE.

Paulo Peruchetti, pesquisador do FGV IBRE, ressalta que os dados mostraram que a população ocupada apresentou novo recorde na série histórica, cerca de 101 milhões de pessoas. Como pode ser visto no gráfico a seguir, o crescimento ao longo de 2023 foi sustentado basicamente pela geração de emprego formal, que contribui positivamente para a dinâmica do emprego. Confira a análise completa de Peruchetti nesta conversa para o Blog:

Decomposição do emprego
(crescimento em relação ao mesmo trimestre móvel do ano anterior)


Fonte: IBGE e FGV IBRE.

O recuo da taxa de desemprego caracteriza um mercado de trabalho arrumado ou você ainda vê fragilidades?

Temos notado que ao longo do ano houve uma desaceleração no crescimento interanual do número de pessoas ocupadas. Em particular, no trimestre móvel terminado em dezembro de 2023, o crescimento interanual foi de 1,6%, um pouco maior do que o observado no terceiro trimestre do ano passado, mas bem menor do que o observado nos anos de 2021 e 2022.

O que mais deve ser olhado com atenção para uma análise sobre o comportamento do mercado de trabalho?

Um dado que ainda merece atenção é o da taxa de participação, que corresponde ao total de ocupados mais desocupados em relação à população em idade para trabalhar. Esse indicador atingiu a marca de 62,2% no final de 2023. No entanto, apesar de ter crescido ao longo do ano passado, permanece abaixo do nível pré-pandemia e abaixo da tendência observada entre 2012 e 2019. Parte disso pode ser explicada pelo elevado número de pessoas que ainda estão fora da força de trabalho.

Taxa de Participação


Fonte: IBGE e FGV IBRE.

Outra notícia boa é que o rendimento das pessoas tem se recuperado, não?

Sim. Tem se recuperado desde a queda brutal observada em 2021. Os dados mostram que o rendimento real no trimestre móvel encerrado em dezembro de 2023 (R$ 3.032) foi 3,1% maior que o observado no mesmo período do ano passado e já superou inclusive o observado no período pré-pandemia.

Rendimento Real


Fonte: IBGE e FGV IBRE.

Essa recuperação é geral ou há diferenças que merecem ser ressaltadas?

O crescimento do rendimento em relação ao pré-pandemia ocorreu de forma heterogênea entre os grupos educacionais. Em artigo recente realizado em coautoria com a pesquisadora Janaína Feijó, mostramos que apesar do rendimento do Brasil já ter superado em 1,3% o observado no final de 2019, ainda há queda para níveis de maior escolaridade, como entre aqueles com ensino médio completo e superior incompleto (-1,3%) e principalmente dentre aqueles com ensino superior completo (-7,9%). Por outro lado, dentre os menos escolarizados, temos observado ganhos de rendimento. Esta queda de renda dos mais escolarizados tem relação direta com o aumento da informalidade observada neste grupo.

Em resumo, os dados mostram que o mercado de trabalho continua apresentando bom desempenho. Em particular, a taxa de desemprego tem mostrado sinais de queda e o número de ocupados tem avançado, mesmo que em ritmo mais lento do que o observado no passado. Contudo, a taxa de participação que ainda se encontra abaixo do observado no pré-pandemia, ainda é um ponto que merece atenção.

 


As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva do autor, não refletindo necessariamente a opinião institucional da FGV.

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