Em Foco

PIB cresce, e a pressão sobre juros deve aumentar

Por Claudio Conceição, do Rio de Janeiro

O explosivo crescimento de 21,6% da agropecuária no primeiro trimestre – foi o melhor resultado do setor nos últimos 26 anos, desde o quarto trimestre de 1996 –,turbinou o PIB, que cresceu 1,9% em relação ao trimestre anterior. Em uma comparação com 34 países, o crescimento do PIB brasileiro só foi menor do que o da Polônia e o da China, com expansões de 3,9% e 2,2%, respectivamente. Dados da OCDE – Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico – mostram que o crescimento médio dessas 34 economias foi de 0,4%.  

É o primeiro resultado que o IBGE divulga no governo Lula, o que deve aumentar a pressão para que o Banco Central reduza os juros, já que a indústria, que gera mais empregos que o agro, teve uma retração de 0,1%, os serviços cresceram 0,6% e o consumo das famílias, apenas 0,2%. Também os investimentos recuaram. Como a agropecuária não vai repetir o excelente desempenho do primeiro trimestre, a atividade econômica tem que crescer de outras formas, com uma expansão da indústria e aumento do consumo das famílias. O setor de transportes, por exemplo, cresceu 1,2%, pela maior demanda por cargas vindas da agropecuária. O crédito, caro e mais seletivo, tem piorado com as altas taxas de juros. Dados do Banco Central referentes a abril mostram que o estoque de empréstimos e financiamentos caiu 0,1% em relação ao mês anterior, enquanto a concessão de novas operações teve uma retração de 17,5%. Também subiu a inadimplência em 3,4%, maior patamar desde fevereiro de 2018.

Outra pesquisa, da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), mostra que o endividamento das famílias continua em patamares recordes: foi de 78,3% em abril, devendo se manter nos próximos meses. E a inadimplência das famílias bateu na casa dos 29,1%.

Mas não é apenas as famílias que estão endividadas. A inadimplência das empresas bateu novo recorde em abril, com mais de 6,5 milhões de empreendimentos negativados, segundo dados da Serasa Experian.

Mas há espaço para a queda da taxa de juros já na próxima reunião do COPOM, que acontece nos dias 20 e 21 de junho? Embora juros menores tenham o poder de levar as pessoas a aumentar o consumo, as empresas a tomarem empréstimos, há muitas travas que devem ser desarmadas para que isso aconteça. E uma delas é que os núcleos de inflação comecem a ceder, o que não vem ocorrendo. Há, inclusive, entre os economistas, um debate se estamos enfrentando uma inflação de demanda ou não, o que torna mais difícil a queda dos juros.

Anote: Visões opostas sobre a inflação.

Há, também, outra discussão na mesa: se haverá ou não mudanças nas metas de inflação, o que deve ser discutido na próxima reunião do Conselho Monetário Nacional (CMN), que vai acontecer uma semana depois da reunião do COPOM. Mudar a meta mexe com o bolso de qualquer um, já que: 1) metas mais altas podem criar expectativas de inflação maior ou fora de controle; 2) juros elevados para controlar a inflação desestimulam crédito e empréstimos, o que é ruim para a economia.

Veja: Há espaço para a queda dos juros?

Voltando a olhar o PIB, que com o crescimento de 1,9% em relação ao trimestre anterior foi o maior desde 2018, à exceção do 3º e 4º trimestres de 2020.

Evolução trimestral do PIB em relação ao trimestre anterior (%)


Fonte: IBGE.

Embora o crescimento tenha ficado acima das expectativas do mercado, as avaliações são de que nas próximas divulgações o PIB deve perder força. O segundo trimestre deve vir mais fraco. O grande crescimento da agropecuária, em grande parte puxado pela safra recorde de soja, deve ser mais acanhado. Setores que se beneficiarem desse crescimento, como o de transportes, com expansão de 1,2%, também não devem ter grandes crescimentos. Ou seja: a economia deve crescer em outros segmentos que têm mostrado resultados ainda bastante acanhados. E isso deve aumentar a temperatura para que os juros, hoje na casa dos 13,75% ao ano, comecem a recuar.

Os destaques do PIB do primeiro trimestre em relação ao anterior:

• Agropecuária: + 21,6%

• Serviços:  + 0,6%

• Indústria: - 0,1%

• Consumo das famílias: + 0,2%

• Consumo do governo: + 0,3%

• Investimentos: - 3,4%

• Exportações: - 0,4%

• Importação: - 7,1%

 

Anote na agenda: dia 15 de junho, às 10:00, II Seminário de Análise Conjuntural. Inscreva-se.

 


As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva do autor, não refletindo necessariamente a opinião institucional da FGV.

Subir
Ensino