Desigualdade e crescimento

Por Claudio Conceição, do Rio de Janeiro

A percepção de boa parte da sociedade brasileira é que a desigualdade e a fome precisam diminuir no país. Que sem isso, não haverá progresso, como mostra recente pesquisa da Oxfam/Brasil-DataFolha, que ouviu 2.564 pessoas no país, em 130 municípios de pequeno e médio e grande porte, e regiões metropolitanas na primeira quinzena de março deste ano.

Apesar de 85% dos entrevistados defenderem a redução da desigualdade, há um certo ceticismo em relação a isso, já que 65% das pessoas não acreditam que as desigualdades diminuirão nos próximos anos. Na pesquisa anterior, referente a 2021, esse percentual era de 64%.

A pesquisa mostra o que pensa, por amostragem, parte da população sobre o papel do Estado em caminhar em direção à solução das graves distorções que vivemos. Uma das fotografias mais importantes da pesquisa é sobre a população mais jovem, de 16 a 24 anos, cuja participação nas discussões dos rumos do Brasil só tende a crescer nos próximos anos, e seu olhar sobre a desigualdade. Nessa faixa etária, a percepção sobre a desigualdade supera a média geral em diversos aspectos apresentados na pesquisa. Trata-se de uma mensagem firme, principalmente em ano de eleições gerais no país, considerando o registro eleitoral recorde entre jovens de 16 e 17 anos. Segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), 2,1 milhões de jovens nessa faixa etária poderão votar esse ano. Em 2018 eram 1,4 milhão.

Alguns destaques:

• 96% dos entrevistados na pesquisa acreditam que é obrigação dos governos garantir recursos para programas de transferência de renda e assistência social, principalmente para os mais necessitados.

• 85% das pessoas ouvidas só acreditam que o país voltará a crescer se houver uma redução da desigualdade, ou seja, o encurtamento da distância entre ricos e pobres. Para que isso ocorra, foram apontadas as principais ações que deveriam nortear o governo. Foi perguntada a nota que os entrevistados dariam para três pontos que seriam essenciais para um Brasil menos desigual: 1) investimento público em educação; 2) investimento público em saúde; e 3) aumento da oferta de empregos. A média das notas dadas foi de 9,6. Outro ponto que a pesquisa mostra é que, com uma nota 9,5, os entrevistados disseram que combater a corrupção é o caminho para se garantir direitos iguais entre homens e mulheres, além de combate ao racismo e aumento do salário-mínimo que, conforme proposta do governo enviada ao Congresso, poderá ter seu quarto ano sem aumento real. Também houve apoio às cotas raciais (74%) para ingresso em universidades, o que ajuda a reduzir a desigualdade.

• 95% das pessoas que foram ouvidas defendem que o Auxílio Brasil atenda todas as pessoas em situação de pobreza.

• plataforma de alguns candidatos às eleições de 2 de outubro, 85% dos entrevistados defendem que as pessoas muito ricas devem pagar mais imposto para financiar políticas sociais, que reduzam a desigualdade, a pobreza e aumente a inclusão social. Esmiuçando a pesquisa na parte relativa aos impostos, 56% dos entrevistados concordam no aumento da carga tributária de uma forma geral para financiar políticas sociais, o mesmo patamar da pesquisa anterior, de 2021. E 94% defendem que o aumento dos impostos deve ser usado para beneficiar os mais pobres.

Com o aumento da insegurança alimentar no país, emprego e renda são prioridades relevantes apontadas pelos entrevistados. Segundo o relatório Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar da Rede Penssan, divulgado em meados deste ano, apenas 4 entre 10 famílias conseguem acesso pleno à alimentação. A crise econômica, a pandemia da Covid-19 e “políticas públicas mal desenhadas”, levaram a uma piora da fome e da desigualdade no país. Este ano, a atividade econômica melhorou, ficando acima das expectativas, levando a uma redução da taxa de desemprego. O rendimento médio do trabalhador, no entanto, embora tenha melhorado este ano, ainda está 3,6% menor do que no trimestre móvel encerrado em julho de 2019.

Relembre: Falta reconhecer que necessidade é maior nas famílias mais pobres.

 


As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva do autor, não refletindo necessariamente a opinião institucional da FGV.

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