Construção: teste de força
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Postado por Conjuntura Econômica
Por Solange Monteiro, do Rio de Janeiro
Um dos destaques da agenda do FGV IBRE desta semana é a divulgação da Sondagem da Construção de agosto, marcada para o dia 26. O setor, que vem se mostrando resiliente mesmo com o aumento dos juros básicos e dos custos de produção - este em ritmo menor, mas sobre uma base mais alta -, registrou um recuo de confiança na pesquisa de julho, quando os empresários sinalizaram um “pessimismo moderado”, como classifica Ana Maria Castelo, coordenadora de Projetos da Construção do FGV IBRE, quanto à demanda para os meses seguintes. O Índice de Confiança da Construção de julho registrou queda de 0,7 ponto em relação a junho, com o indicador de expectativas registrando a maior contração, de 2,3 pontos em relação ao mês anterior.
Inflação de custos da construção desacelera, mas sobre base alta
alta da mão-de-obra neutraliza parte da melhora de cenário em materiais e equipamentos
(evolução % do INCC-M em 7 meses)
Fonte: FGV IBRE.
A análise entre prós e contras que influenciam as expectativas sobre o crescimento da construção foram abordadas por Ana no Boletim Macro IBRE de junho, e continuam sob a lupa dos pesquisadores. Levando em conta os níveis da atividade em relação a 2019, não só houve recuperação pós-pandemia como a construção mantém uma distância folgada a seu favor. Assim como deve fechar 2022 com crescimento bem acima do PIB no agregado, tal como em 2021, acompanhando as revisões para cima da atividade brasileira diante dos resultados do primeiro semestre deste ano.
Esse desempenho tem se refletido positivamente no emprego. Em relação a dezembro de 2019, o setor supera o número de vagas formais registrado em dezembro de 2019. No primeiro semestre do ano em relação ao mesmo período de 2021, registra alta de 12,7% no segmento de edificações, 14,4% nas atividades de infraestrutura e de 3% em serviços. O setor também teve um papel importante no campo do investimento, como mostrou o Monitor do PIB, fechando o segundo trimestre em alta de 1,6% em relação ao período anterior.
Infraestrutura: confiança na boa projeção de investimentos
(em R$ bilhões)
Fonte: Abdib.
No campo da indústria de materiais de construção e do comércio varejista, ambos registraram desaceleração no primeiro semestre deste ano em relação ao primeiro semestre de 2021 - de, respectivamente, -8,6% e -7,3%. Quanto a este última, Ana lembra que já era de se esperar um movimento de reequilíbrio da demanda, depois do crescimento de pequenas obras registrado desde 2020 em função da mudança de comportamento das famílias diante da pandemia, com adaptações para home office entre outras voltadas ao bem-estar, diante da necessidade de ampliar o tempo dentro de casa. Esse consumo das famílias representa cerca de 50% do comércio de materiais. “Levando em conta essa tendência já esperada, somada à queda de renda das famílias e a inflação setorial - de janeiro a julho, a inflação de materiais e equipamentos observada no INCC foi de 7,34% em relação ao mesmo período de 2021 - podia-se esperar uma queda até maior”, diz, lembrando que a demanda das construtoras colabora para mitigar essa queda.
Nas atividades de construção em si, a especialista do IBRE aponta que os pesos do lado positivo da balança ainda são significativos. No campo da infraestrutura, a previsão de investimentos calculada pela Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústria de Base (Abidb) é de aportes crescentes até 2024. Com uma melhora gradual esperada nos preços de insumos - de julho de 2020 a julho de 2022, o INCC registrou alta de 31%, inflação que foi bem maior conforme o peso de cada material conforme a obra executada -, acompanhada de um adequado reequilíbrio econômico-financeiro dos contratos - que comporte o choque de custos observado nesse período -, espera-se que essas projeções se realizem e dinamizem o setor.
Evolução segmento imobiliário: alto e médio padrão se destaca
(acumulado jan-mai/22 em relação a jan-mai/21)
Fonte: Abrainc.
No setor imobiliário, Ana ressalta que uma das principais questões adiante será a resposta da demanda diante da mudança de regras do programa Casa Verde Amarela - que amplia os subsídios e a faixa de elegibilidade ao programa para famílias com faixa de renda mais alta. Diante do choque de custos da indústria e de renda das famílias, o programa registrou recuo em unidades lançadas de janeiro a maio, e ainda assim representou 65% destas. “Este ano, quem puxou o mercado foram os lançamentos de médio-alto padrão”, lembra Ana, ressaltando, entretanto, que essa expansão é limitada, dado o peso da habitação social. A pesquisadora do FGV IBRE lembra que o setor imobiliário é uma indústria de ciclos longos, e que os sinais do segmento de preparação de terreno - que envolvem também obras de infraestrutura - indicam um momento de otimismo acima do moderado, refletindo a evolução dos negócios do setor nos últimos dois anos. No caso do setor imobiliário, ela ainda ressalta que, apesar do momento de juros e renda mais adverso, a taxa média de juros no financiamentos imobiliários nunca chegou a acompanhar a Selic de 2,5%, como também não tende a chegar a 13%, perto da atual taxa básica. “A taxa média hoje é de 9,5% ao ano, subindo cerca de 2 pontos percentuais em relação à observada há dois anos. Comparada ao histórico de crédito habitacional, essa taxa já atingiu níveis mais altos”, afirma, destacando que o crédito habitacional continua em níveis elevados de contratação. “Há uma queda nas taxas acumuladas em 12 meses, maior no financiamento de imóveis usados, o que não impacta diretamente a indústria. Levando em conta uma evolução equilibrada dos distratos, e o nível ainda alto de contratação de crédito imobiliário, temos uma sinalização ainda positiva na dinâmica do mercado”, afirma.
Acompanhamento orçamentário do FGTS
(resultado de jan-ago de cada ano; em 2022, atualização até dia 16 de agosto)
Valor contratado por ano (em R$ bilhões)
Unidades produzidas por ano (em mil)
Fonte: Abrainc.
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