Construção lidera alta da confiança no setor produtivo: preocupação com custos perde protagonismo

Por Solange Monteiro, do Rio de Janeiro

As Sondagens do FGV IBRE divulgadas esta semana mostram a construção liderando o aumento do otimismo entre os setores produtivos. O Índice de Confiança da Construção registrou alta de 3,5 pontos, alcançando 101,7 pontos, maior nível desde novembro de 2012, quando a confiança do setor estava em 102,3 pontos. Em setembro, o comércio marcou aumento de 2,4 pontos na confiança; os serviços, 1 ponto; e a indústria registrou leve recuo. de 0,8 ponto. Com esses resultados, os três primeiros setores ultrapassam o nível de neutralidade de 100 pontos, ficando apenas a indústria um pouco atrás, com 99,5 pontos.

Ana Maria Castelo, coordenadora de Projetos da Construção do FGV IBRE, aponta que especialmente o segmento de edificações registra uma recuperação importante do otimismo – levando a um sentimento de confiança semelhante ao início de 2014, pré-recessão –, e que há uma tendência positiva de arrefecimento das preocupações com a inflação de custos de matérias-primas. A alta de preços de insumos verificada no setor nos últimos anos alimentou várias incertezas quanto à continuidade de obras, especialmente quanto ao equilíbrio financeiro de contratos, como de obras públicas, repercutido aqui no Blog e na revista. Em setembro, o Índice Nacional de Custos da Construção (INCC) calculado pelo FGV IBRE variou 0,1%, contra 0,33% em agosto, marcando essa tendência de desaceleração. No acumulado do ano, o INCC registra alta de 8,91% e 10,89% em 12 meses.

Construção lidera melhora da confiança em setembro
(evolução, em pontos, em relação ao mês anterior)


Fonte: FGV IBRE.

Uma das características que diferenciam a Construção dos demais setores é uma maior confiança em relação aos próximos seis meses, o que pode refletir uma característica particular do ciclo do setor. Ana destaca, entretanto, que o setor não está isento de desafios adiante. Além dos reflexos de uma desaceleração macroeconômica projetada para 2023, Ana lembra que o ciclo de aperto da política monetária também pode afetar negativamente o setor. “A possibilidade de que haja redução nas taxas de juros do crédito imobiliário no próximo ano é pequena”, afirma. “Isso traz um desafio especialmente para as famílias ou pequenos investidores que dependem desse crédito.” A economista lembra que, não à toa, as novas medidas anunciadas dentro do Casa Verde Amarela estão voltadas para incluir no programa habitacional a parcela de famílias que, diante das condições macroeconômicas, ficaram inviabilizadas de obter crédito pelo SBPE.

Nos demais setores produtivos, observa-se que o otimismo é maior quanto à situação atual. O que pode refletir, como já observou ao Blog a coordenadora das Sondagens do FGV IBRE Viviane Seda, uma conscientização desses setores de que a economia brasileira deverá sofrer um freio de arrumação adiante, além de não estar imune à tendência de desaceleração nas principais economias mundiais.

Na construção, otimismo quanto ao futuro supera percepção sobre o presente 
(índices de setembro, em pontos)


Fonte: FGV IBRE.

No caso do comércio, a Sondagem aponta que a melhora da confiança “está relacionada em especial com a recuperação da confiança do consumidor nos últimos meses, do mercado de trabalho, desaceleração da inflação, além de algumas medidas de estímulos do Governo”. Para os serviços, Rodolpho Tobler, economista do FGV IBRE, ressalta a manutenção da trajetória positiva de recuperação após os efeitos negativos da pandemia, cuja continuidade dependerá da evolução do ambiente macroeconômico. Para a indústria, a Sondagem aponta “um pessimismo quanto ao aumento da produção, possivelmente relacionados com a continuidade da desaceleração da atividade econômica e dificuldades ainda no abastecimento de alguns insumos”, comenta Stéfano Pacini, economista do FGV IBRE.

 


As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva do autor, não refletindo necessariamente a opinião institucional da FGV.

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