Construção: custos, juros e mudança de regras no financiamento imobiliário levam a empresários mais cautelosos

Por Solange Monteiro, do Rio de Janeiro

Em outubro, a Sondagem da Construção do FGV IBRE mostra um comportamento mais cauteloso dos empresários diante da conjuntura. O Índice de Confiança registrou estabilidade – com variação positiva de 0,1 ponto em relação ao mês anterior –, após uma queda de -0,4 ponto em setembro. Ana Maria Castelo, coordenadora de Projetos da Construção do FGV IBRE, afirma que fatores como o aumento da taxa básica de juros e a recente mudança nas regras de financiamento habitacional podem comprometer as perspectivas de negócios, e começam a entrar no radar do setor. A partir de 1 de novembro, a Caixa passa a reduzir o valor financiado com recursos do Sistema Braileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE) - de 80% para 70% pelo SAC e de 70% para 50% pela Tabela Price. O comprador não poderá ter outro financiamento vigente no banco, e o limite apra o valor do imóvel é de R$ 1,5 milhão. 

Trata-se, entretanto, de um setor que ainda sinaliza resiliência, pondera Castelo. “A Sondagem aponta, por exemplo, avanço positivo no quesito carteira de contratos. E, entre os quesitos avaliados para o cálculo do Índice de Expectativas, o indicador de tendência de negócios nos próximos seis meses também registrou alta, de 1,9 ponto. “O indicador de evolução recente atividade fecha o quarto mês acima de 100 pontos (o que indica terreno positivo); o de mão de obra prevista, completa o terceiro mês acima de 100 pontos. O que é preciso observar são as perspectivas de sustentação desse cenário”, diz.

Em artigo para o Boletim Macro do FGV IBRE de outubro, Castelo destacou que, no acumulado do ano até agosto, o Monitor do PIB registra expansão de 4,6% da construção, acima do agregado do PIB brasileiro. O bom momento do setor inclui a recuperação do segmento de pequenas obras realizadas por famílias, refletido em um crescimento de 3,5% do varejo de materiais de construção no mesmo período, depois de esse segmento registar dois anos de retração.

Outro elemento que se mantém no radar das atenções do setor é a pressão de custos, com destaque para a mão de obra, que no acumulado do ano até outubro acumula alta de 7,09%, de acordo ao Índice Nacional de Custo da Construção (INCC-M) do FGV IBRE. Neste mês, entretanto, a maior alta registrada se deu na cesta de materiais, em insumos como cimento, concreto e vergalhões. O aumento do índice de custos do grupo de materiais, equipamentos e serviços em outubro foi de 0,72%, contra 0,6% da mão de obra, fechando o acumulado do ano em 4,14%. No agregado, o INCC registra alta de 5,34% no acumulado do ano e de 5,72% em 12 meses –  devendo fechar 2024 também acima da inflação geral medida pelo IPCA, para o qual o Boletim Focus desta segunda (28/10) aponta 4,55% para 2024.

Emprego na construção, saldo líquido (admissões – demissões)
Janeiro-agosto


Fonte: Caged.

“A Sondagem mostra que as principais preocupações dos empresários do setor continuam sendo a escassez de mão de obra qualificada e seu custo”, ressalta Castelo, indicando que no caso da escassez de trabalhadores há uma diferença de mais de 10 pontos percentuais nas assinalações como fator limitativo dos negócios quando comparado ao resultado de dezembro de 2023.  

No Boletim Macro do FGV IBRE, Castelo indicou que o saldo líquido de admissões na construção entre janeiro e agosto deste ano é menor do que no mesmo período de 2023, mas ressaltou que essa diferença é explicada pelo setor de infraestrutura – aquecido pelo calendário eleitoral, cujo prazo de obras se encerra em meados do ano. “Tanto no setor de edificações quanto em serviços especializados, esse saldo é maior em 2024”, diz, reforçando o diagnóstico de mercado de trabalho ainda aquecido.   

Frequência de menções ao fator limitativo (em %)


Fonte: FGV IBRE.

Castelo destaca que o programa Minha Casa Minha Vida se mantém como forte propulsor do segmento imobiliário – o que mitiga parte do impacto esperado com o aumento de juros e de regras para o crédito voltado às habitações para famílias de renda média-alta e alta. “Com exceção da Caixa, os bancos já passaram a anunciar alta de juros para suas linhas de financiamento, e isso deverá afetar esses segmentos de maior renda em alguma medida”, diz.

 


As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva do autor, não refletindo necessariamente a opinião institucional da FGV.

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