Confiança empresarial fecha 2024 melhor do que em 2023, mas com viés negativo. Consumidores já mostram sensibilidade à inflação
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Postado por Conjuntura Econômica
Por Solange Monteiro, do Rio de Janeiro
Os empresários brasileiros encerraram 2024 mais confiantes do que no final de 2023. O Índice de Confiança Empresarial (ICE) do FGV IBRE fechou o ano em 97,3 pontos. Comparativamente com dezembro de 2023, levando em conta o dado sem ajuste sazonal, o ICE fechou 2,2 pontos acima, com indústria e comércio registrando as maiores altas, respectivamente, de 4 e 2,9 pontos.
“Apesar de serem bons resultados quando comparados a 2023, ainda há uma certa frustração, pois poderiam ser melhores”, afirma Rodolpho Tobler, economista do FGV IBRE, destacando os sinais de cautela dos empresários identificados nas Sondagens, diante do cenário de juros e inflação mais altos, e dúvidas crescentes quanto à capacidade da política fiscal do governo em conter a trajetória de alta da dívida pública. Tal percepção, afirma, é corroborada pelo resultado de outro indicador do FGV IBRE, o Índice de Incerteza da Economia (IIE-Br), que em dezembro registrou alta de 5 pontos, para 115,4 pontos – maior nível desde março de 2023, quando chegou a 116,7 pontos. Acima de 110 pontos, o IIE-Br entra em terreno considerado desfavorável.
Índice de Confiança: melhor do que em 2023, mas com viés de baixa
(diferença, em pontos, entre dezembro de 2024 e de 2023 - sem ajuste sazonal)
Fonte: FGV IBRE.
Os indicativos de desconfiança quanto à sustentabilidade de um cenário mais positivo para os negócios são observados especialmente no campo das expectativas. Tobler destaca que, comparando a evolução gráfica do Índice de Expectativas e de Situação Atual, observa-se um distanciamento entre ambas as trajetórias nos últimos meses, com a linha da evolução atual subindo, e a das expectativas, descendo. Em dezembro, o Índice de Expectativas da sondagem empresarial registrou queda de 1 ponto em relação ao mês de novembro, caindo para 95 pontos, enquanto a avaliação sobre os negócios correntes subiu 0,7 ponto, para 99,6 pontos, melhor resultado desde dezembro de 2013, quando o Índice de Situação Atual da Sondagem Empresarial marcou 100,2 pontos. “Esse resultado pode ser explicado pelas sequentes surpresas com a atividade em 2024, com uma demanda maior do que a prevista desde o início do ano, mas a percepção de que em 2025 a tendência é de perda de fôlego”, pontua Tobler.
Em dezembro, os setores que ainda mantiveram resultados crescentes no campo das expectativas foram construção e indústria. No caso da construção, Tobler lembra que essa atividade é caracterizada por ciclos mais longos, o que garante certa resiliência a turbulências no horizonte de curto prazo, ainda que a preocupação com o aumento de custos e o cenário de juros já esteja presente, como destacou Ana Maria Castelo, coordenadora de Projetos da Construção do FGV IBRE, ao Blog (leia aqui). “No caso da indústria, esse resultado pode indicar a percepção dos empresários de que a demanda doméstica não terá uma redução abrupta”, diz Tobler, lembrando ainda de possíveis vantagens conjunturais para a indústria de alimentos exportadora, via câmbio. No quarto trimestre, os segmentos industriais que mais registraram aumento da confiança foram os de bens duráveis e bens de capital, com destaque para veículos automotores, informática e eletrônicos e máquinas e equipamentos.
Indicador de Incerteza Econômica do Brasil (IIE-Br)
Fonte: FGV IBRE.
Os principais fatores limitativos assinalados pelos participantes das sondagens empresariais em dezembro confirmam o cenário de economia presente aquecida, com incertezas sobre sua sustentabilidade. Tobler indica que tanto nos setores de comércio quanto de serviços o item mais citado é a competição no próprio setor com, respectivamente, 35,1% e 36,8% de assinalações. Apesar de ser identificado pelos empresários como uma característica negativa, Tobler destaca que esse fator é associado a atividade aquecida. “Se olharmos a evolução desse resultado, entretanto, veremos que o nível de citações já foi maior; no comércio, chegou a 41,7% em outubro e, em serviços, a 39,3% no mesmo mês”, destaca. No comércio, também se destaca o aumento de assinalações sobre custo financeiro, que em dezembro chegou a 19%. Escassez de mão de obra qualificada se mantém entre os fatores limitativos mais citados no setor de serviços, com 22% de assinalações em dezembro – nível que se mantém desde julho, diz Tobler – e na construção. “No caso da construção, esse fator fechou o ano com 35,1% de assinalações, o maior nível desde outubro de 2013, quando foi de 36%”, destaca.
Índice de Confiança do Consumidor
média móvel trimestral, em pontos
Fonte: FGV IBRE.
Para os consumidores, o ano também terminou com queda da confiança, de -3,6 pontos em relação a novembro, para 92 pontos. O Índice de Confiança do Consumidor do FGV IBRE aponta que essa queda foi puxada principalmente pelas expectativas, e ocorreu em três das quatro faixas de renda analisada. A exceção foi a faixa 2, que corresponde a renda entre R$ 2,1 mil e R$ 4,8 mil. Apesar de fechar o ano com um nível de confiança maior do que no final de 2023, Tobler destaca para a deterioração das expectativas da faixa 1 de renda (de até R$ 2,1 mil). Preocupação com a manutenção do bom momento do mercado de trabalho e com a alta da inflação podem ser parte da resposta a esse resultado, diz. “Em nossa pesquisa, perguntamos quanto o entrevistado acha que a inflação estará em 12 meses. Ainda que em geral a resposta tenda a ser um nível superior ao da inflação observada, vemos que hoje ela é alta especialmente nesse grupo de renda. Em dezembro, a mediana da inflação entre os respondentes da Faixa 1 de renda foi de 7,3%, contra 6,3% da mediana entre todas as rendas”, ilustrou. De acordo ao Indicador Ipea de Inflação por Faixa de Renda, a inflação acumulada em 12 meses até novembro de 2024 para as famílias de renda baixa (entre R$ 900 e R$ 1,35 mil) era de 5,08%, para um IPCA de 4,87%.
Confira a Síntese das Sondagens de dezembro.
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