China: composição do crescimento no fim de 2024 lança bons sinais para 2025

Por Solange Monteiro, do Rio de Janeiro

Os dados qualitativos da atividade chinesa em dezembro de 2024 chegaram surpreendendo o mercado, alinhado à cartilha que reza que o crescimento sustentado do país depende de mais consumo interno. Os indicadores mostraram uma desaceleração da indústria e maior dinamismo dos serviços. “Mantida essa tendência, as perspectivas para 2025 tendem a melhorar”, afirma Livio Ribeiro, pesquisador do FGV IBRE, sócio-diretor da BRCG. Ribeiro projeta o crescimento do PIB chinês de 4,9% em 2024 e 4,7% este ano – neste último caso, acima da média do mercado.

No campo das manufaturas, tanto o indicador oficial (NBS) quanto o privado (Markit/Caixin) marcaram resultados abaixo do esperado. O NBS apontou a alguma recuperação de novas ordens de exportação, mas também a uma desaceleração da produção. Para Ribeiro, “esses sinais claudicantes devem se manter enquanto as condições externas, especialmente a política externa do governo Trump, nos EUA, mas também internas, não forem suficientemente conhecidas”. No caso dos serviços, ambos os indicadores migraram para o terreno expansionista, com bom avanço na rubrica de novas ordens.

Caso essa dinâmica se sustente, será uma boa contribuição em um ano no qual já se espera um significativo impulso do governo para evitar a desaceleração da economia. “O impulso ao crescimento acontecerá. Não é algo estrutural, vai causar desequilíbrios, mas cada dia com a sua dor”, resume Ribeiro, lembrando ainda que as medidas anunciadas reativam principalmente a chamada Velha China, ligada ao mercado imobiliário, de crédito e obras de infraestrutura. O pesquisador destaca que dois eventos importantes ocorridos no país em dezembro aportaram mais pistas da direção da estratégia do governo chinês em 2025: a reunião do Politburo e a Central Economic Work Conference, conferência em que são definidas as principais metas econômicas para o ano seguinte – crescimento, inflação, déficit fiscal –, sendo que a meta de crescimento só é divulgada em março. “Nessas reuniões, foi determinada para 2025 uma política fiscal mais proativa e uma política monetária moderadamente expansionista”, descreve Ribeiro, destacando que a última vez em que o termo “moderadamente expansionista” foi usado para tratar da política monetária foi depois da crise financeira de 2008/09. “Para quem sabe ler a comunicação chinesa, o que se expressou claramente é que 2025 será de enorme expansão de liquidez de operações de crédito e redução taxa de juros”, afirma.

Quanto à forma como essa injeção de liquidez acontecerá, o pesquisador diz que há certa diferença entre as prioridades destacadas nas duas reuniões, mas que a direção converge para uma promoção do consumo. “Ainda que não existam sinais claros de uma distribuição direta de renda, a redução de impostos e os subsídios previstos não deixam de ser uma forma indireta de fazê-lo, aumentando a renda disponível”, afirma. Recentemente, houve a sinalização de que se pretende ampliar o financiamento de títulos do Tesouro ultralongos para estimular o investimento empresarial e o consumo doméstico. Esses títulos são usados para financiar renovações de equipamentos e trocas de bens de consumo. De acordo à Comissão nacional de Desenvolvimento e Reforma (NDRC), o programa lançado no ano passado também prevê um subsídio para famílias adquirirem telefones celulares, tablets e relógios/ pulseiras inteligentes. A previsão chinesa é de fechar com um aumento do déficit fiscal em ao menos 1 ponto percentual, para 4%. Ribeiro considera que a meta de crescimento chinês do governo deverá permanecer em torno dos 5%.

 


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