Barômetros globais em queda, com forte influência da China

Por Solange Monteiro, do Rio de Janeiro

Os Barômetros Globais de agosto, divulgados pelo FGV IBRE nesta terça-feira (10/9), registraram queda tanto na avaliação sobre a situação corrente quanto a futura. Esse resultado foi puxado em grande parte pela piora da avaliação sobre a região da Ásia, Pacífico e África, dominada pela economia chinesa. O Barômetro Global Coincidente teve recuo de 2,3 pontos, “inteiramente determinado por essa região”, como indica o comunicado. Já o Barômetro Antecedente caiu 2,6 pontos, com contribuição das três regiões pesquisadas – que incluem Europa e Hemisfério Ocidental. Com isso, os Barômetros agora marcam, respectivamente, 91,5 e 100,6 pontos.

Quando observada a contribuição de cada região para ambos os Barômetros nos últimos 12 meses, a região Ásia/Pacífico/África é a única com resultado negativo, com -1,6 ponto no Coincidente e -1,2 no Antecedente. “Até o fim de 2023 a economia chinesa vinha apresentando recuperação da atividade. A partir de 2024, tanto o indicador coincidente quanto o antecedente calibram esse crescimento e começam a desacelerar, primeiramente motivados por uma desaceleração mais expressiva do Japão, em março de 2024 seguido pela perda de fôlego do crescimento chinês para 2024”, afirma Anna Carolina Gouveia, pesquisadora do FGV IBRE responsável pela análise e divulgação dos Barômetros.

Livio Ribeiro, pesquisador do FGV IBRE, sócio-diretor da BRCG, recorda que no primeiro trimestre a economia chinesa chegou a surpreender positivamente graças à ajuda da demanda externa, com crescimento de 5,3%, levando os mercados a um maior otimismo quanto ao cumprimento da meta do governo de crescer 5% em 2024. “Eles conseguiram exportar muito mais do que seria imaginável, dada a guerra comercial e todo o contencioso que tem crescido em relação à China”, diz. “Mas era uma estratégia que já se mostrava limitada no longo prazo, pois adiante tinha um mundo que não está consumindo muitos bens, que está desacelerando e que alimenta birra cada vez maior com o país.”

O resultado do segundo trimestre corroborou esse diagnóstico, com o crescimento desacelerando para 4,7%, deixando expostos os problemas de falta de demanda doméstica e de confiança do consumidor em consumir – entre outros motivos, pela crise imobiliária que derrubou o preço dos imóveis, principal opção de formação de patrimônio das famílias chinesas. “A bateria de dados disponíveis em julho e os primeiros indicadores de agosto não apontam a grandes mudanças nesse quadro”, afirma Ribeiro.

Barômetro Coincidente – Ásia, Pacífico e África
em pontos


Fonte: FGV IBRE.

Os indicadores qualitativos para manufaturas, tanto o oficial (NBS) quando o privado (Markit Caixin) apresentaram resultados fracos – respectivamente, com índices de 49,1 e 50,4, lembrando que números abaixo de 50 apontam a contrações – tanto para a demanda interna quanto externa. Já o NBS de serviços fechou em 50,3, com índices abaixo de 50 para novas ordens (46,8) e emprego (45,9).

Por sua vez, as leituras de inflação de agosto recentemente divulgadas reforçam esses sinais de fraqueza de demanda. “Houve redução e pressão tanto para consumidores quanto para produtores”, diz Ribeiro. A inflação ao consumidor foi de 0,4% em agosto, abaixo do esperado, fechando em 0,6% no acumulado de 12 meses. “Esse resultado só não foi pior devido a choques climáticos que pressionaram preços de alimentos, com alta de 3,4% no mês”, completa, indicando que esse resultado foi o mais alto para períodos fora da celebração do Ano Novo Chinês desde o quarto trimestre de 2019, quando o país sofreu com o choque na produção de suínos. Essa carência de demanda doméstica, por sua vez, se reflete nos preços ao produtor – resultado de -0,7% em agosto e de -1,8% no acumulado em 12 meses –, que perdem capacidade de repassar aumento de custos aos consumidores.

Inflação chinesa em agosto
aberturas selecionadas


Fonte: NBS.

Para Ribeiro, enquanto as políticas do governo se mantiverem orientadas para o lado da oferta, dificilmente o país inverterá essa direção. Ele aponta exagero na reação de parte do mercado que já revisa o PIB chinês para próximo de 4,5% este ano. “Para isso, precisaríamos ter uma recessão global no quarto trimestre, liderada pela China”, afirma, apontando a uma estimativa de expansão de 4,9%. Mas reforça que, sem uma recalibragem adequada de políticas, dificilmente o país dinamizará sua economia.

“Mesmo se isso acontecer adiante, é preciso lembra que a China é como um transatlântico, e levará tempo para corrigir a rota”, diz. Para 2025, Ribeiro projeta o PIB chinês com expansão de 4,6%. Ele ainda ressalta que, mesmo que no campo das exportações o país tenda a ampliar a estratégia de fabricar fora de seu território para não perder mercado, mitigando assim parte da resistência aos seus produtos, a garantia de royalties e receitas não colabora para a geração de renda no âmbito doméstico, sob um cenário em que a taxa de desemprego entre jovens chega a 17%, mesmo depois de revisada pelo governo. “Pensando que a sociedade chinesa também está envelhecendo, essa estratégia pode fazer sentido. Mas ainda é um problema para essa geração da transição demográfica”, afirma, o que amplia o problema de confiança que hoje inibe a demanda interna.   

 


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