Edição de outubro de 2023

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Nota do Editor

Em seus dois primeiros mandatos, o presidente Lula surfou com o boom das commodities, com um cenário externo bastante favorável e com uma composição da Câmara e do Senado não com tanta força como vemos nesse terceiro mandato.

Ainda há um ciclo de alta das commodities, o que tem gerado recordes na nossa balança comercial e concentrado as exportações nas mãos de estados produtores de minério e de commodities agrícolas, como mostra Lia Valls nesta edição. De janeiro a setembro, o saldo comercial foi de US$ 71,31 bilhões, 50% maior que o do mesmo período do ano passado, superando em cerca de 16% todo o saldo comercial de 2022, que foi de US$ 61,5 bilhões. Além do aumento das exportações, têm caído as importações, o que tem ajudado nesses resultados.

O ambiente externo é mais hostil, tanto no campo econômico como no político. A China já não tem a mesma potência de locomotiva para puxar a economia mundial. As estimativas de Lívio Ribeiro, pesquisador associado do FGV IBRE e um dos cinco melhores analistas de China, segundo a Bloomberg, apontam um crescimento este ano de 5%, ainda considerável, mas bem menor que anos anteriores. Para 2024, a projeção é de que o PIB chinês cresça 4,2%.

A inflação ainda é um foco de preocupação em todo o mundo. O Fed, o banco central norte-americano, deve manter a política monetária mais apertada por um período mais longo, com juros mais elevados, com reflexos na economia mundial.

Outra questão, essa calcanhar de aquiles, é a fiscal. Manoel Pires, pesquisador do FGV IBRE, destaca, pelo menos, dois riscos na Lei Orçamentária Anual 2024 que prevê um orçamento equilibrado, com aumento de arrecadação e gastos de 19,2% do PIB.  O que significa uma elevação na arrecadação, líquida de transferências para estados e municípios, de 1,4% do PIB. O novo arcabouço fiscal pode criar mecanismos mais racionais e estáveis que permitam a resolução contínua do conflito distributivo nas interações entre Executivo e Legislativo. No entanto, o conjunto de medidas de aumento de receita tem projeções demasiadamente otimistas, seja por possível não aprovação ou diluição; o potencial de frustração é muito alto, como mostra a Carta do IBRE dessa edição.

Além da economia – as previsões estão sendo revistas para cima, com o PIB podendo crescer na faixa dos 3% este ano, em grande parte pelo excelente comportamento da agropecuária e da indústria extrativa no primeiro semestre, além da contribuição de nossas exportações –, no campo político a margem de manobra de Lula é menor do que nos seus mandatos anteriores, como explica Daniela Campello, professora associada da FGV Ebape na entrevista deste mês, em função das mudanças que vêm sendo observadas na América do Sul e no mundo.

 

Claudio Conceição

 


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