Edição de outubro de 2021

Nota do Editor

A nova ameaça

A crise de energia que se abate sobre o planeta, com os preços do gás e dos combustíveis disparando, puxados pela retomada econômica e medidas restritivas do uso do carvão, como acontece na China, como forma de reduzir a emissão de gases poluentes, é uma ducha de água fria sobre as perspectivas de que voltaremos a crescer de forma mais robusta. Embora a atividade econômica no mundo esteja se recuperando, o ritmo do crescimento já começou a ser mais lento.

Para o Brasil essa crise embaralha ainda mais quaisquer projeções de recuperação do Produto Interno Bruto (PIB), que estão sendo revistas para baixo.. Estamos também sofrendo com a estiagem que tem quebrado safras e reduzido os níveis dos reservatórios. Já há falta de água em várias cidades que, somada à alta dos combustíveis, alimenta a inflação que volta com grande voracidade.

A crise de energia não estava muito nas contas do mercado tempos atrás. Além das incertezas políticas, do elevado desemprego, da crise fiscal, o foco era a pandemia: se controlada, com a flexibilização das normas de isolamento, a economia poderia voltar a crescer em V, como defendiam alguns economistas. 

A elevação nos preços da energia elétrica e dos combustíveis tem impactos distintos sobre a inflação e, consequentemente, na atividade econômica. Se levarmos em conta que a taxa de desemprego permanece elevada e, segundo cálculos dos pesquisadores do FGV IBRE, só começará a se recuperar em 2026, se nada mudar de forma radical, há uma forte corrosão do poder de compra que inviabiliza uma melhora no consumo e, consequentemente, na oferta de produção.

Os impactos dessa crise energética interna podem ser vistos sob dois ângulos: o primeiro, a energia elétrica, por força dos reajustes da bandeira tarifária; e o segundo, os derivados de petróleo, principalmente gasolina e diesel. A gasolina tem um efeito pontual, pesando muito no IPCA, comprometendo, em média, mais de 5% do orçamento familiar. Mas não se espalha. Mas o diesel, que pesa menos de meio por cento no IPCA, tem grande potencial de impactar a inflação, pois é responsável pelos fretes e pelo transporte público urbano. Isso explica por que a inflação está contaminando vários setores.

Já no caso da energia elétrica ela teria um efeito temporário com o fim das bandeiras tarifárias. Mas, com a crise hídrica, como o governo lançou uma nova bandeira que deverá vigorar até maio do ano que vem mais ou menos, o espalhamento de aumento de custos para outros setores vai perdurar. 

Esse quadro fica mais sombrio com a crise energética mundial. A China está com falta de carvão. Em várias províncias ocorrem apagões, afetando a produção. No Reino Unido há falta de combustíveis pela falta de motoristas de caminhões-tanque. Os preços do gás natural subiram mais de 100% em vários países, havendo casos de alta de 300%. 

Essa semana, o preço do barril de óleo tipo Brent, do Mar do Norte, venceu a barreira dos US$ 80, o que não ocorria há quase 3 anos. O que é péssimo para nós, pois impacta os preços dos combustíveis, especialmente do diesel, cujos preços contaminam toda a economia.

 

Claudio Conceição

 


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