Edição de março de 2022

Nota do Editor

Depois da pandemia, a guerra

Ainda saindo de uma pandemia que deixou milhões de mortos e desestruturou a economia mundial, a invasão da Rússia à Ucrânia já está fazendo novos estragos. Além da crise humanitária, com mortes de civis e mais de 2 milhões de refugiados, e da tensão de que o conflito possa evoluir para uma guerra entre o Ocidente e o país de Vladimir Putin, a economia mundial será impactada, uma vez mais. Embora ainda seja cedo para saber os efeitos dessa guerra insana sobre a atividade econômica – não há dados sobre produção, consumo e vendas –, já há estimativas de perdas do PIB entre 0,3% e 0,8% pelos efeitos da guerra.

Mas se na atividade econômica a mensuração ainda é bastante incipiente, a inflação, que já vinha subindo no mundo depois que a pandemia começou a arrefecer, e a demanda, que estava paralisada, voltaram a todo o vapor e vão continuar sua trajetória ascendente. O preço do barril do petróleo Brent já havia superado a casa dos US$ 137 no último dia 8 quando escrevia esta nota, com previsões pessimistas que podem bater na casa dos US$ 200. O preço do trigo já subiu mais de 45% desde que a guerra começou. A Rússia é a segunda maior exportadora de petróleo do mundo, atrás da Arábia Saudita, e a maior exportadora de gás natural. A Europa é extremamente dependente tanto do petróleo quanto do gás da Rússia, que já ameaçou cortar o fornecimento para os países europeus.

O embargo imposto pelo Ocidente à Rússia – embora difícil, estuda-se interromper a compra de petróleo russo, o que puxaria ainda mais o preço para cima – tem levado o governo Putin a fazer ameaças de corte no fornecimento de gás à Europa. O que seria desastroso, ainda mais nessa época de rigoroso inverno. 

Para o Brasil, as coisas não são animadoras. Dependemos de fertilizantes que chegam da Rússia e de Belarus que, pelo que se sabe, foram suspensos. O que ameaça a próxima safra se a situação não for resolvida, com o fim das hostilidades. E a escalada nos preços dos combustíveis está levando o governo a encontrar formas de segurar o preço interno, o que caracteriza uma ingerência na política de preços da Petrobras, como está avaliando o mercado. 

A encrenca é grande, ainda mais neste ano eleitoral onde há aumento de gastos num cenário de grande fragilidade fiscal.

Raquel, minha enteada, que fará 17 anos, me disse ontem: “Claudio, em pouco mais de 2 anos minha geração passou por uma pandemia e uma guerra. É muita coisa para digerir ao mesmo tempo”. 

Mas a guerra pode trazer uma mudança, com o mundo procurando investir de forma consistente em energias que reduzam a dependência de energias fósseis. Demora, mas, se não começar, estaremos sempre com a espada na garganta.

Claudio Conceição

 


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