Edição de fevereiro de 2022

Nota do Editor

O economista Fernando de Holanda Barbosa, professor titular da FGV EPGE de 1980 a 2020, acaba de lançar o livro O flagelo da economia de privilégios: Brasil, 1947-2020, que não atribui a ideologias, pessoas nem sistemas políticos, mas a uma cultura que leva os gestores a alimentar um amplo sistema de privilégios do qual muitos brasileiros se beneficiam e que leva o país a recorrentes períodos de crise fiscal de estagnação.

Apesar desse flagelo dos privilégios, que começaram desde que os portugueses por aqui aportaram, Barbosa é otimista com o futuro: o Brasil pode se tornar uma das economias mais ricas do mundo em três décadas. Mas para isso temos que mudar nossa estrutura de cultura e instituições.

Na entrevista que é publicada nesta edição, feita a quatro mãos, por mim e a editora Solange Monteiro, Barbosa pontua algumas ações e decisões que deveriam ser adotadas como forma de ajudar o país a sair da UTI onde está já há algum tempo.

• O teto de gastos foi a maneira encontrada para se estabelecer uma âncora fiscal, mas é uma âncora errada. A âncora correta para uma crise fiscal é colocar um piso no superávit primário.

• Precisamos de uma consolidação fiscal de 3% a 4% do PIB. Então, será preciso aumento da carga tributária: reduzir a renúncia tributária e fazer com que os que pagam pouco paguem mais.

• Temos que aumentar o crescimento de nosso produto potencial. O que fazer no curto prazo? Como economista, eu só vejo um caminho, que é aumentar a taxa de investimento.

• Era a política fiscal que tinha que lidar com os problemas trazidos pela pandemia: dar dinheiro aos desempregados, ajudar as empresas. Não era momento de fazer política monetária.

• Mercado e Estado são duas instituições complementares. Mas o Estado não pode ser assaltado pela sociedade. É preciso ter o Estado cuidando do social, e não do interesse privado.

• No Brasil, ouvi gente dizendo que subir juros não era um instrumento apropriado, mas é. Entretanto, como disse, o custo social é elevado, e a dosagem terá que ser amarga.

• Um marco importante desse processo de privilégios é a própria Constituição de 1988. Na parte de direitos individuais, não há o que criticar. Em geral a Constituição coloca que todo mundo tem direito a tudo e ninguém tem obrigação de nada, quando uma sociedade precisa estipular direitos e obrigações.

Claudio Conceição

 


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