Edição de dezembro de 2021

Nota do Editor

Estagnação e mercado de trabalho fragilizado

Com mais gente na rua, com a mobilidade voltando a níveis pré-pandemia, o setor de serviços, que tem um peso da ordem de 70% no PIB, cresceu 1,1% no terceiro trimestre do ano, mas foi praticamente anulado pelo tombo de 8% na agropecuária e recuo de 9,8% nas exportações de bens e serviços, levando a uma retração de 0,1% do PIB. Foi um resultado ruim, que quase todo mundo esperava – a média do mercado apostava que o PIB ficaria estagnado na casa do 0%. Que fica pior se levarmos em conta que o IBGE revisou para baixo os seus dados do segundo trimestre: a atividade econômica teve um tombo bem maior do que previsto anteriormente: de -0,1% para -0,4%. Mas esse pálido desempenho não chega a configurar uma recessão. Mais correto dizer que estamos numa estagnação.

Com inflação em alta, juros subindo, cenário externo menos favorável e fortes fragilidades no mercado de trabalho, além das incertezas com as próximas eleições presidenciais, e com os sinais de que este último trimestre do ano não deve ser uma grande maravilha, o quadro pode mudar para pior. Os analistas já dão como certo uma estagnação em 2022. E muitos sinalizam para uma recessão.

Mas há alguns fatos que podem minimizar esse quadro. É possível que haja um arrefecimento inflacionário, com um recuo nos preços dos alimentos por safras melhores, o fim da crise hídrica com o fim da estiagem, com redução nos preços da energia – a nova bandeira tarifária vigora até maio do ano que vem –, a aprovação da PEC dos Precatórios que, bem ou mal, tranquiliza o mercado. Mas tudo muito incerto.

Os dados deste último trimestre do ano serão fundamentais para uma análise mais segura do que vem pela frente. A ver.

Mas a fragilidade do mercado de trabalho é um obstáculo a ser transposto, como forma de aumentar a produtividade da economia. A Carta do IBRE desta edição mostra que, entre o terceiro trimestre de 2012 e de 2019, um conjunto de apenas seis ocupações no setor de serviços, correspondentes hoje a 18,1% da população ocupada (PO) do Brasil, foi responsável pela criação de 5,25 milhões de postos de trabalho. Como a PO nesse período foi de 4,4 milhões, isso quer dizer que todas as outras ocupações tiveram perda de vagas no período. O ruim é que essas ocupações que cresceram são bastante vulneráveis, já que são postos de trabalho que, comparados à média brasileira, pagam menos, têm trabalhadores menos instruídos e operam mais na informalidade.

 

Claudio Conceição

 


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