Superávit comercial brasileiro deve ser menor em 2022

Lia Valls, pesquisadora associada do FGV IBRE

Por Solange Monteiro, do Rio de Janeiro

O comércio exterior foi uma das frentes positivas para a economia brasileira em 2021 e deverá continuar colaborando em 2022. Porém, diferentemente da estimativa do governo – de um superávit comercial de US$ 79,4 bilhões no ano, ampliando em 30% o resultado recorde de 2021, de US$ 61,2 bilhões –, ele deverá ser menor do que o do ano passado, na estimativa de Lia Valls, pesquisadora associada do FGV IBRE.

“No caso das exportações brasileiras, o crescimento dos preços continua superando o de volume, mas ambos caem”, afirma. Em 2021, no agregado das vendas ao exterior, os preços aumentaram 28,3% em relação a 2021, enquanto em quantidade a variação foi menor, de 3,5%. O crescimento das exportações brasileiras em preço, por setor, foi de 62,8% na indústria extrativa (somando US$ 79,83 bilhões), 22,2% na agropecuária (com U$ 55,8 bilhões), e de 26,3% na indústria de transformação, chegando a US$ 144,12 bilhões.

Saldo recorde
balança comercial brasileira, em US$ bilhões


Fonte: Secex.

Nas importações, diz Lia, a tendência é de preços maiores e menos volume. Em 2021, a evolução das compras brasileiras no exterior em preço foi de 14,2%, e de 21,8% em quantidade. Um dos destaques na expansão das importações – que colaborou para a revisão para baixo do superávit no ano, conforme apontou o Boletim Macro FGV IBRE de dezembro – foi a demanda por gás natural para termelétricas, devido à crise hídrica. Somente esse item registrou alta de 298% em relação a 2021. Além de uma normalização do cenário energético com a recuperação do nível dos reservatórios, as revisões para baixo do crescimento da economia brasileira também podem reduzir a demanda por importações. “Como ainda há problemas de reposição de estoques de várias indústrias, como a automobilística, as compras externas ainda podem estar aquecidas. Mas em nível menor do que o verificado em 2020”, diz.

Lia reforça a estimativa apontada no Boletim de um cenário de incertezas em 2022, com instabilidade cambial.  Ela destaca previsões internacionais de nova melhora nos preços de minério de ferro, puxada pela demanda chinesa, ainda que não no nível observado no início de 2021. “Outra tendência importante para as exportações brasileiras é a de aumento da demanda por carne bovina, com o fim das restrições impostas pela China”, lembra Lia. Em 2021, as exportações de carne para a China caíram 7,3% em relação a 2020. Em contrapartida, a economista destaca uma possível redução dos envios ao mercado americano, reflexo da política de incentivo  do governo Biden para ampliação da produção doméstica, com um programa de subsídios para os pequenos produtores. 

Para o petróleo, importante peça dentro do equilíbrio dessa balança, a expectativa é de queda de preço no primeiro semestre. “Mas a tensão no cenário internacional pode atenuar essa tendência, ou mesmo invertê-la em algum período do ano”, diz. Tomando a situação das commodities no geral, Lia aponta que o cenário ainda é favorável para o Brasil.

No momento, os principais fatores de alteração de cenário para a evolução do comércio mundial, aponta Lia, são as implicações da onda de contágio pela variante Ômicron para a atividade e o comportamento da inflação nos países desenvolvidos. “Um aumento maior que o esperado nas taxas de juros que induzam à desaceleração da atividade podem jogar contra as correntes de comércio”, aponta. Afora qualquer choque, entretanto, a tendência é de um cenário ainda favorável, não com o mesmo fôlego observado em 2021, que foi o ano da grande recuperação, mas ainda melhor do que 2020, conclui Lia.

Principais exportações brasileiras a maiores parceiros comerciais


Fonte: Secex.

 


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