Sondagem da Construção: novo PAC ainda não animou o setor

Por Solange Monteiro, do Rio de Janeiro

Em agosto, o Índice de Confiança da Construção do FGV IBRE  registrou alta de 0,7 ponto em relação a julho, para 95,9 pontos, alcançando o maior nível desde outubro do ano passado (100,9 pontos). A melhora, entretanto, não foi disseminada em todas as atividades. A infraestrutura registrou recuo da mesma magnitude (-0,7 ponto, com ajuste sazonal), puxado pelo índice que mede as expectativas, que registrou queda de 1,8 ponto, enquanto a percepção sobre a situação atual melhorou 0,3 ponto.

Ana Maria Castelo, coordenadora de Projetos da Construção do FGV IBRE, afirma chamar a atenção que essa queda aconteça no mês do lançamento oficial do novo PAC – com a estimativa de investimentos públicos e privados de R$ 1,7 trilhão. “Isso não significa que seja definitivo. Mas mostra, que apesar da receptividade num contexto geral, no plano das empresas ainda não vê grande movimentação nesse sentido”, diz.

Na avaliação de Ana, alguns fatores podem ter colaborado para esse resultado. O primeiro é que o mercado ainda esteja avaliando o programa – que foi anunciado no dia 11, enquanto a coleta da Sondagem aconteceu entre os dias 1 e 24 de agosto. Outro elemento que pode não ter provocado tanta empolgação, lembra, é o fato de o governo federal ter priorizado obras paralisadas e inacabadas. Levantamento do jornal Folha de S. Paulo com dados da Casa Civil indica que cerca de 43% das obras anunciadas (5.319 ações) correspondem a esse perfil.

Índice de Situação Atual da Construção
Evolução na margem e estatísticas descritivas


Faixa entre 100-110: sinaliza o período moderadamente otimista.
Faixa entre 90-100: sinaliza o período moderadamente pessimista.
Fonte: FGV IBRE.

Analisando as principais variações no detalhe, a economista do IBRE indica que a principal mudança no campo das expectativas, o que mais sofreu na avaliação de agosto, não aponta a uma redução de demanda prevista, mas a uma estabilidade. “No segmento de obras de arte (segmento que inclui a construção de pontes e viadutos, por exemplo), o que de fato aconteceu foi uma importante migração das assinalações de ‘vai aumentar’ para ‘permanecer estável’, mas não de queda”, explica. O Índice de Expectativas desse segmento registrou queda de 108 pontos para 101, saindo do terreno positivo para uma pontuação mais próxima da neutralidade. “Por sua vez, o segmento de obras viárias registrou em agosto um recuo menor das expectativas (0,4 ponto), mas vinha caindo desde maio, quando alcançou a pontuação mais alta do ano até aqui, e agora já se encontra abaixo dos 100 pontos.” No Índice de Confiança cheio, que inclui outras atividades, o segmento infraestrutura se mantém na casa dos 100 pontos. “Não foi ambiente negativo, mas esperava que seria melhor”, resume.

Índice de Expectativa da Construção
Evolução na margem e estatísticas descritivas


Faixa entre 100-110: sinaliza o período moderadamente otimista.
Faixa entre 90-100: sinaliza o período moderadamente pessimista.
Fonte: FGV IBRE.

Para Ana, é possível que os próximos meses ainda sejam marcados por oscilações nas expectativas dos empresários da construção. “Se observarmos, muitos elementos contribuem para um cenário mais favorável: além do PAC, há no segmento imobiliário a queda da Selic, o Minha Casa Minha Vida, por exemplo. Mas os efeitos não são imediatos”, ressalta.

Um dos destaques positivos da Sondagem em agosto foi o indicador que mede a evolução recente do segmento de preparação de terrenos, que superou os 100 pontos, registrando o maior resultado desde dezembro. Melhoras nessa atividade são sempre celebradas, por representar uma etapa antecedente a um novo ciclo de produção. Ana ressalta que essa alta pode estar concentrada no setor imobiliário. “A elevação do limite superior para elegibilidade nessa nova fase do Minha Casa Minha Vida – para famílias com renda entre R$ 44 mil e R$ 8 mil, o valor máximo do imóvel passou de R$ 264 mil para R$ 350 mil em todos os estados – trouxe uma parcela importante da classe média para dentro do programa, e pode ter contribuído para esse resultado”, diz. Perspectiva de redução de juros e a mudança do plano diretor da capital paulista – que, além de ser um importante mercado per se, pode influenciar revisões em outras cidades – também estão na lista de fatores favoráveis para o segmento de edificações.

Fatores limitativos à melhoria dos negócios - Total
Proporção de empresas selecionando cada opção de resposta, em %, com ajuste sazonal


Fonte: FGV IBRE.

Pesquisa da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (Cbic) lançada nesta segunda, realizada em 217 cidades, aponta queda no lançamento de imóveis no primeiro semestre do ano, de 15,8% em relação ao primeiro semestre de 2022, mas com um resultado melhor no segundo trimestre do ano, 15,7% superior ao primeiro tri. No segundo trimestre, os lançamentos enquadrados no programa Minha Casa Minha Vida também recuaram em relação ao segundo tri de 2022 (-25,8%), mas registraram um resultado melhor que no trimestre imediatamente anterior, com 4,1%.

Ao Blog da Conjuntura, Ana também ressaltou que a inflação não foi um problema para os empresários da construção em agosto. “O movimento de deflação da cesta de materiais continua contribuindo para taxas mais comedidas do INCC, embora a mão de obra tenha contribuído para uma pequena aceleração em relação a julho”, diz, de 0,24%. “Tanto no acumulado do ano, quanto em 12 meses, a taxa acumulada continua negativa”, conclui.

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