O Brasil e a transição energética

Por Claudio Conceição, do Rio de Janeiro

O aumento das emissões no mundo, as transformações climáticas, a pressão para o uso de energias mais limpas como forma de proteger o planeta dos graves danos já causados pela mão humana, tem aumentado as discussões sobre o papel da transição energética que, sem dúvida, é um grande desafio tanto do ponto de vista econômico como tecnológico. Substituir fontes fósseis, como o petróleo e o carvão, por exemplo, por outros tipos de energia, demandará tempo e muita persistência e vontade política.

O setor de energia, hoje, é responsável por algo ao redor de três quartos das emissões de gases do efeito estufa no mundo. Países, como a China por exemplo, que vem fazendo um grande esforço para reduzir sua dependência de combustíveis fósseis, é um dos maiores consumidores de carvão e petróleo do mundo.

A questão da transição energética e seus impactos no mundo é tema de Fernanda Delgado, diretora executiva corporativa do Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás (IBP), e Raquel Filgueiras, economista sênior do IBP, na revista Conjuntura Econômica deste mês, que estará em circulação essa semana.

Segundo as economistas, apesar dos grandes desafios, o Brasil está em uma posição relativamente confortável em relação a outros países, já que se encontra muito próximo do perfil almejado para a matriz global na próxima década.

“Enquanto o cenário mais auspicioso da Agência Internacional de Energia (IEA, sigla em inglês) desenha que as renováveis devem compor 30% da matriz mundial em 2030, o Brasil tem hoje 48% de sua matriz energética abastecida por fontes renováveis, ante uma média global que figura na casa dos 14%. No caso da matriz elétrica, essa diferença é ainda mais significativa: 85% da matriz elétrica brasileira é composta por energias renováveis, enquanto a participação de renováveis na geração elétrica mundial foi de, aproximadamente, 30%”, salientam no artigo.

Embora o quadro seja bastante favorável, há necessidade do aumento da participação de outras fontes como forma de garantir a segurança energética do país. Fernanda e Raquel explicam que “o potencial para grandes hidrelétricas no Brasil já foi majoritariamente explorado e a maior parte do potencial ainda não explorado encontra-se na Amazônia, região de alta sensibilidade ambiental, que tem metade de sua extensão coberta por áreas legalmente protegidas. Ademais, usinas hidrelétricas são empreendimentos intensivos em capital e de baixa padronização, com projetos que precisam ser desenhados para as condições locais. Há também uma maior resistência à desapropriação de áreas e maiores restrições ambientais ao alagamento de grandes áreas com expressivos custos ambientais. Outro ponto que contribui para a incerteza no planejamento da expansão hidrelétrica, é a influência das mudanças climáticas nos regimes hidrológicos e a vulnerabilidade do sistema frente às possíveis alterações de vazão. Trabalhos recentes indicam que a redução das precipitações em algumas regiões pode comprometer a geração do parque instalado e inviabilizar economicamente a expansão de usinas hidrelétricas no futuro”.

Com esses entraves, as fontes solar e eólica representam os maiores destaques com aumento da capacidade instalada de 102% e 170%, respectivamente, entre 2020 e 2030. Se por um lado, a expansão da matriz brasileira caminha para uma participação cada vez mais expressiva destas renováveis, a capacidade de geração de energia passa a depender mais de fatores ambientais como a presença de ventos e a incidência solar.

No entanto, com alertam as duas economistas, a intermitência característica deste tipo de fonte, que dependem de sol e vento, “faz necessária a complementação por fontes que assegurem o abastecimento quando por alguma razão a geração por estas fontes encontre-se de algum modo comprometida. Esta resiliência de resposta, por assim é fornecida por fontes fósseis, como gás natural, por exemplo. A garantia do suprimento passa, portanto, pelo equilíbrio entre a diversificação da matriz com uso ampliado de fontes menos emissoras e a complementação de fontes de origem fóssil que assegurem a geração de energia”.

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