Barômetros Globais apontam novo recuo da confiança, sinalizando retomada econômica mais lenta

Paulo Pichetti, pesquisador do FGV IBRE

Por Solange Monteiro, do Rio de Janeiro

O resultado mais recente dos Barômetros Globais, divulgado ontem (10/11), mostra que a recalibragem da confiança do mercado para um cenário de recuperação econômica mais lento do que o estimado no início do ano continua em curso. Os dois indicadores que formam os Barômetros – coincidente, que reflete o atual estado da atividade econômica, e o antecedente, que mostra a expectativa do mercado sobre até seis meses à frente – registraram recuo, mantendo uma tendência observada desde a virada do semestre, mas que ainda os coloca em terreno de neutralidade, próximo dos 100 pontos.

Em ambos os indicadores, o grupo que registrou maior queda foi Ásia/Pacífico e África. Paulo Pichetti, pesquisador do FGV IBRE, lembra que durante o mês de outubro, em que foram colhidos os dados para essa nova edição dos Barômetros, ainda se registravam surtos de Covid-19 em vários pontos do continente asiático. “Ainda que eles consigam realizar um isolamento radicam para debelar o contágio, isso tem efeito sobre a atividade produtiva, que vai se espelhando pela cadeia de insumos”, diz. Problemas na rede de suprimentos também se destacaram entre os principais fatores que afetaram a confiança no Hemisfério Ocidental, com especial peso para os Estados Unidos. Ainda que dados mais recentes sobre mercado de trabalho naquele país tenham sido recebidos positivamente pelos analistas em geral, refletindo dinamismo econômico, Pichetti ressalta que em outubro consolidou-se a percepção de que a regularização da disponibilidade de insumos para a indústria não ocorrerá antes do próximo ano. “Há uma grande complexidade na oferta e outros problemas foram se somando, como o da cadeia logística”, diz. “Há muito tempo indústria americana tem se organizado no modelo just in time, de estoques reduzidos, e parece que não é simples criar essa disrupção em termos de incerteza quanto à chegada de componentes, o que agora se reflete no gargalo observado nos portos”, diz. Na coluna Ponto de Vista da Conjuntura Econômica de novembro, o pesquisador associado do FGV IBRE Samuel Pessôa também destacou o aumento dos tempos de espera para descarga nos portos dos Estados Unidos como um dos fatores do choque inflacionário percebido naquele país. Em seu texto, Pessôa cita relatório da Goldman Sachs que prevê uma normalização dos serviços portuários dos EUA apenas no primeiro semestre de 2022. “Essa situação não escapou sequer aos olhos dos chargistas da The Economist, que em recente edição colocou as pessoas que costumam fazer filas em frente a grandes magazines à espera da abertura das portas na tradicional Black Friday americana nadando em direção a cargueiros carregados de contêineres, dado o estrangulamento do serviço portuário”, ilustra Pichetti. Tal quadro, lembra Pichetti, colabora para uma inflação mais persistente, que por sua vez já foi detectada pelo FED. “O BC americano está acompanhando a situação dia após dia, preocupado com o risco de contaminação das expectativas, mas sem a percepção de que será um fenômeno de reversão no curto prazo – o que reforça a expectativa de reversão, em algum momento do próximo ano, da política monetária expansionista”, diz.

Pichetti lembra que esse cenário global ainda incerto, marcado por um choque inflacionário mais demorado do que o desejado em que o fator energético soma-se como variável desafiadora em diversas economias, incluindo a China, tende a influenciar negativamente também a expectativa dos empresários brasileiros. “Aqui essas preocupações se somam a um cenário doméstico complexo. A questão fiscal se colocou mais complexa com o avanço da PEC dos Precatórios, e o BC já sinalizou que a mudança do teto de gastos será determinante no curso da política de juros”, afirma. Cenário que, como aponta a Carta do IBRE  da Conjuntura Econômica, é comprometido mais pelo fator político do que macroeconômico em si, dada a melhora das contas públicas observadas nos últimos anos. “Não teremos meses fáceis”, diz Pichetti, lembrando que o aumento de preços externos somados ao efeito do contexto fiscal na moeda brasileira ainda trará desafios adiante.

Barômetro Coincidente


Fonte: FGV IBRE.

 

Barômetro Antecedente


Fonte: FGV IBRE.

 


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