-
Edições anteriores 13 nov 2023
Edição de novembro de 2023
Clique aqui para ler a versão digital da Conjuntura Econômica.
Nota do Editor
A guerra entre Israel e o Hamas elevou ainda mais a instabilidade nos mercados. Embora seja cedo para avaliar as reais dimensões do conflito no cenário econômico e político, uma questão já está presente: a alta dos preços do petróleo. Na semana seguinte ao ataque do Hamas a Israel, o preço voltou a subir, aproximando-se de US$ 90 por barril do tipo Brent.
Na verdade, é bom lembrar que desde meados de julho o petróleo tem ficado mais caro, pela menor oferta devido a cortes de produção feitos pela Arábia Saudita. Mas como a economia mundial está crescendo menos, isso tem brecado uma alta mais acentuada do barril. O que pode mudar se o conflito no Oriente Médio se alastrar.
Em sua última reunião, mesmo com o conflito, o Comitê de Política Monetária do Banco Central manteve a trajetória de corte dos juros, em 0,5 ponto, sinalizando que a evolução de novas tensões geopolíticas, os juros norte-americanos, a resiliência dos núcleos de inflação em diversos países, exige atenção e cautela por parte dos países emergentes.
Além da guerra – é bom não esquecer que há uma outra, entre a Rússia e a Ucrânia, que quase sumiu do noticiário –, o que embaralha e dificulta, ainda mais, as projeções dos analistas, já se trabalha, desde o final do primeiro semestre, com uma economia mais fraca neste segundo semestre do ano.
E isso se reflete nos índices de Confiança que o FGV IBRE calcula. Em outubro, houve queda generalizada da confiança entre empresários e consumidores. O comércio, um dos principais motores de crescimento, recuou pela segunda vez, desta vez mais acentuada, de 3 pontos em relação a setembro. E o mais preocupante: a retração maior foi observada no índice que mede as expectativas para os próximos meses, que caiu para 86,7 pontos, longe do nível considerado neutro, de 100 pontos. Do lado dos empresários, a expectativa também piorou: caiu 3,3 pontos sobre setembro.
Há vários nós que devem ser desatados para que a economia volte a crescer de forma segura. Vou citar, apenas, dois. O primeiro: reverter a queda dos investimentos. Apesar do melhor desempenho da construção civil, a forte contração da absorção de máquinas e equipamentos levará a uma retração do investimento de 1,0% em 2023. Analisando a série histórica, como apontou o Boletim Macro FGV IBRE de outubro, vemos que é muito incomum termos ao mesmo tempo forte crescimento do PIB e redução do investimento. Apenas em 2002 houve algo parecido, com crescimento do PIB de 3,1% e contração do investimento de 1,4%.
O segundo, esse o calcanhar de aquiles: equacionar a questão fiscal. Depois que o ministro da Fazenda anunciou uma meta de déficit primário zerado no ano que vem, o presidente Lula disse que isso não será possível, e a meta pode ser mudada para déficit de 0,5% em relação ao PIB. Isso gerou ainda mais insegurança, o que tem levado ministros e políticos a buscarem uma saída para passar uma mensagem de que o governo está empenhado no equilíbrio fiscal. Mas, pelo que vem sendo avaliado, não há espaço para o aumento de receitas na magnitude que o governo projeta para equilibrar as contas públicas, com o excessivo aumento de gastos aprovado.
A ver.
Claudio Conceição
Clique aqui para ler a versão digital da Conjuntura Econômica.