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Entrevistas 01 nov 2024
Em Foco
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Postado por Conjuntura Econômica
Emprego bate novo recorde
Por Claudio Conceição, do Rio de Janeiro
Na última quinta-feira (31/10), o IBGE divulgou os dados de desemprego do terceiro trimestre de 2024, mostrando que a taxa de desemprego manteve sua trajetória de queda: o desemprego foi de 6,4%, recuando 1,3 ponto percentual em relação ao terceiro trimestre de 2023, quando a taxa de desemprego bateu em 7,7%.
Paulo Peruchetti, pesquisador do Observatório da Produtividade Regis Bonelli do FGV IBRE, mostra que o número de pessoas desocupadas no terceiro trimestre deste ano foi de 7 milhões, 15,8% menor do que no mesmo período de 2023.
Como você avalia esses resultados?
Os dados do IBGE mostram que no terceiro trimestre de 2024 a população ocupada apresentou um novo recorde na série histórica (cerca de 103 milhões de pessoas, o que representou um crescimento de 3,2% em relação ao observado no mesmo período de 2023). Como pode ser visto no gráfico 1, o crescimento interanual do emprego tem sido sustentado basicamente pela geração de emprego formal, que tem contribuído positivamente para a dinâmica do emprego ao longo dos últimos meses.
Gráfico 1: Decomposição da variação interanual da população ocupada (em relação ao mesmo trimestre móvel do ano anterior)
Fonte: Pnad Contínua.
Um exercício adicional mostra ainda que houve uma forte mudança na dinâmica de recuperação do emprego no período pós-pandemia, quando comparado com a recuperação do emprego observada após a recessão de 2014-1016.
Gráfico 2: Decomposição da variação acumulada da população ocupada em relação aos períodos selecionados
Fonte: Pnad Contínua.
Que mudanças no perfil do mercado de trabalho você poderia apontar?
A dinâmica da recuperação da população ocupada após a recessão de 2014-2016 se deu majoritariamente pela melhora no emprego informal. Em particular, a população ocupada informal contribuiu com quase 70% do crescimento acumulado do emprego de 5,9% entre o quarto trimestre de 2016 e o quarto trimestre de 2019.
Já o padrão de recuperação da pandemia entre o quarto trimestre de 2021 e o terceiro trimestre de 2024 foi muito diferente do observado após a recessão de 2014-2016, com predominância da geração de ocupações formais, em especial os trabalhadores com carteira assinada, para o crescimento acumulado de 7,6% em relação ao último trimestre de 2021.
E taxa de participação, como tem se comportado? Que mudanças você aponta?
Um dado que ainda merece atenção é o da taxa de participação, que corresponde ao total de ocupados mais desocupados em relação à população em idade para trabalhar.
Gráfico 3: Evolução da Taxa de Participação (em %)
Fonte: Pnad Contínua.
Os dados mostram que, entre o primeiro trimestre de 2012 e o quarto trimestre de 2019, a taxa de participação passou de 62,3% para 63,6%, apresentando um crescimento acumulado de 1,3 p.p. Entretanto, com a pandemia de Covid-19, o mercado de trabalho brasileiro presenciou uma crise de grandes proporções, com uma elevação da taxa de desemprego e uma queda abrupta da taxa de participação. No auge da crise sanitária, em meados de 2020, a taxa de participação atingiu o menor nível da série histórica.
Com a recuperação da atividade após a reabertura da economia, a taxa de participação voltou a apresentar forte crescimento, dando sinais de que retornaria ao nível pré-pandemia. No entanto, isso acabou não ocorrendo, tendo em vista que a recuperação da taxa de participação foi interrompida com a redução observada entre o terceiro trimestre de 2022 e o primeiro trimestre de 2023. Mesmo tendo voltado a crescer desde o início de 2023, no terceiro trimestre de 2024 a taxa de participação estava em 62,4%, abaixo do patamar pré-pandemia (quarto trimestre de 2019), que era de 63,6%.
Em estudo recentemente publicado no Observatório da Produtividade Regis Bonelli, em coautoria com Fernando de Holanda Babosa Filho e Fernando Veloso, analisamos os determinantes estruturais da taxa de participação brasileira (acesse o estudo completo).
Vimos que a melhora da composição educacional da PIA contribuiu de forma positiva para a variação acumulada da taxa de participação desde 2012. Já o envelhecimento populacional contribuiu de forma negativa para a variação da taxa de participação ao longo do período.
Os resultados mostram, no entanto, que embora o envelhecimento populacional tenha tido efeito negativo na variação da taxa de participação, isso foi mais do que compensado pelo efeito positivo da melhoria da composição educacional.
Desta forma, concluímos que como a escolaridade média da população brasileira continua sendo relativamente baixa e ainda possui bastante margem para aumento, é possível que sua elevação ao longo do tempo seja capaz de compensar os efeitos negativos do envelhecimento populacional sobre a taxa de participação no mercado de trabalho brasileiro.
As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva do autor, não refletindo necessariamente a opinião institucional da FGV.