Edição de setembro de 2020

Nota do Editor

Foi o pior segundo trimestre já registrado nas séries históricas do IBGE, iniciadas em 1980, com o PIB caindo 9,7% no segundo trimestre deste ano no país. Apesar do tombo violento, ao olharmos no espelho as outras economias, o resultado não foi dos piores, já que a forte retração da atividade econômica ficou em linha com o desempenho dos Estados Unidos, da Alemanha e a média dos países da OCDE. E caímos menos que a Espanha, França e as principais economias da América Latina. No entanto, diferente de outras economias, nossa fragilidade é maior, já que entramos novamente em recessão – dois semestres seguidos de queda do PIB –, sem que tivéssemos nos recuperado da recessão anterior, encerrada há 3 anos. Também temos um quadro fiscal bastante dramático, que se agravou com a pandemia em função da liberação de recursos de linhas de crédito e auxílio emergencial – este com grande peso na composição dos gastos públicos em relação ao PIB e prorrogado até o final do ano –, como ilustra nossa matéria de capa. 

Com o desembarque do coronavírus no mundo, os governos e bancos centrais lançaram mão de várias medidas de estímulo monetário e fiscal para tentar minimizar os efeitos da pandemia, especialmente no amparo aos mais vulneráveis, como foi o caso do Brasil. Na América do Sul, mesmo em governos considerados mais liberais, a disseminação do vírus levou a uma forte tentação de ampliar gastos, para manter os auxílios. Em certa medida, mesmo que justificada, a situação fiscal brasileira não permite que isso se mantenha por muito tempo, sob o risco de piorar ainda mais o quadro fiscal, colocando em risco a solvência fiscal. Por aqui, a extensão do auxílio emergencial aumenta a popularidade do presidente, que busca a reeleição que irá ocorrer só em 2022. Até lá, sem uma vigorosa recuperação da economia, fica difícil se pensar em ampliar ainda mais esses auxílios (ver matéria na página 42).

Seguindo essa trilha, a Carta do IBRE defende que não é recomendável imaginar que a agenda nacional pós-pandemia retomará aquele momento de fevereiro deste ano, de política fiscal sob controle e foco concentrado numa pauta de produtividade e de crescimento de longo prazo mais. É claro que esses temas não devem sair da pauta, mas o momento é outro, e o Brasil terá de priorizar novamente o desafio de ancorar a solvência pública, sem perder de vista a situação dos mais vulneráveis, ao mesmo tempo em que cria as condições para uma retomada rápida da economia.

#FiqueEmCasa

Claudio Conceição

 


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