Edição de junho de 2019

Nota do Editor

A queda de 0,2% do produto interno bruto (PIB) no primeiro trimestre em relação ao último trimestre de 2018, segundo divulgou o IBGE no final do mês passado, sinaliza para mais um ano de crescimento pífio da atividade econômica. Foi a primeira retração desde 2016, puxada pela forte queda de 1,7% no investimento, o péssimo desempenho da indústria pela crise argentina e um recuo de 6,3% na indústria extrativa pelo rompimento da barragem da Vale, em Brumadinho. O PIB só não encolheu mais devido ao aumento de 0,3% do consumo das famílias. Na edição de maio, já alertávamos que, sem reformas – não só da Previdência –, e sem melhorar a produtividade brasileira, que passa por uma educação de qualidade, bom ambiente de negócios que reduza o custo do investimento e da formalidade, além de uma economia aberta, não haverá atalhos para o país convergir para um crescimento mais robusto (ver Nota do Editor e matéria de capa da edição de maio).

Enxergar um horizonte mais favorável para este ano está ficando cada vez mais difícil. As previsões de analistas estão sendo, sistematicamente, revisadas para baixo, já havendo projeções de crescimento do PIB abaixo de 1%. Hoje, o nível de investimentos na economia está 29% abaixo do pico registrado em 2013, e não muito distante do pior momento da recessão, quando encolheu 32%. Ou seja: como podemos pensar em crescimento econômico se não há investimento e há mais de 13,2 milhões de desempregados? Com a economia andando de lado, volta a ganhar força a discussão de redução da taxa de juros e a liberação de contas ativas do FGTS (no governo Temer foram liberadas contas inativas). São atalhos, que no nosso entender, não irão resolver os graves problemas de nossa economia.

Desde o início dos anos 1980 que o PIB per capita praticamente não cresce, à exceção do período de bonança internacional que vivenciamos nos anos 2000. A produtividade do trabalho no Brasil por hora trabalhada cresceu, em média, apenas, 0,4% ao ano entre 1982 e 2018. O que é muito pouco para um país em desenvolvimento.

Dois artigos publicados nesta edição, dos professores Nelson Marconi, da FGV EAESP, e Fernando de Holanda Barbosa, da FGV EPGE, embora divergentes em vários aspectos, procuram explicar por que crescemos tão pouco. O secretário do Tesouro, Mansueto Almeida, e o secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Adolfo Saschida, em entrevista à Conjuntura, também analisam o atual momento do país e traçam cenários possíveis para a saída dessa letargia. São contribuições importantes para um melhor entendimento do momento atual.

Mas uma coisa é certa. Pelo andar da carruagem, se não houver vontade política para virar o jogo, continuaremos sendo o país do futuro. Um futuro que nunca chega.

Claudio Conceição

 


Clique aqui para ler a versão digital Conjuntura Econômica

Subir