Edição de janeiro de 2020

Nota do Editor

2019 terminou com leves sinais de recuperação na economia, depois da recessão de 2014-2016, e o crescimento do PIB da ordem de 1% nos dois anos seguintes. Pelas projeções do Boletim Macro IBRE, no ano passado a economia brasileira deve ter crescido 1,2%.

Este ano, além do carregamento estatístico de 1% referente a 2019 e sem os impactos do desastre de Brumadinho que derrubou o crescimento da indústria extrativa mineral, a atividade econômica poderá avançar por volta de 2,5%, mesmo com a crise na Argentina e o mundo crescendo menos, além do aumento da tensão mundial com o ataque dos EUA, na madrugada do último dia 3, ao terminal de cargas do aeroporto de Bagdá, matando importantes comandantes do Irã.

Há, também, outras questões relevantes. E a principal delas passa pela política, onde há muita incerteza sobre a condução das próximas reformas, já que o governo parece não se empenhar muito para que elas caminhem, ficando nas mãos do Legislativo esse papel. Exemplo é a reforma tributária, considerada por muitos a mais relevante para que o país ganhe musculatura: o governo não encaminhou nenhuma proposta sobre o assunto para avaliação dos parlamentares.

Outro ponto é o desgaste da imagem do país no exterior, fruto de declarações e posições controversas sobre o meio ambiente, povos indígenas e uma perigosa mistura de religião e política. A influência dos filhos de Bolsonaro na administração, que acabou levando à demissão de vários auxiliares do presidente, tem gerado muita instabilidade, prejudicando a percepção do país lá fora e incertezas quanto ao rumo das reformas e o ambiente de negócios.

Outra questão que tem deixado confuso os economistas, é que a lenta recuperação da economia no ano passado não foi acompanhada de melhoria da produtividade que, segundo cálculos do IBRE – ver Observatório da Produtividade (https://ibre.fgv.br/observatorio-produtividade), deve ter fechado o ano com queda de 0,7%. E sem que a produtividade cresça, é difícil manter um crescimento sustentável.

Com juros e inflação baixas e a injeção de recursos da liberação de parcelas do FGTS, houve um aquecimento da economia, especialmente a partir do terceiro trimestre de 2019. No entanto, o desemprego permanece elevado e a renda da população, que não terá aumentos reais do mínimo – o ministro Paulo Guedes deu declarações que poderia mudar esse ponto –, podem ser fatores de desequilíbrio e instabilidades em 2020. Sem falar num possível acirramento político com as eleições municipais.

Que tenhamos um ano sem surpresas negativas.

Claudio Conceição

 


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