Edição de fevereiro de 2021

Nota do Editor

O ano começou com a esperança de que a vacinação, iniciada em alguns países ainda em dezembro, mudasse o trágico panorama vivido em 2020. Em certa medida, o surgimento da vacina é um potente fator para debelar a pandemia. No entanto, uma segunda onda, a lentidão da vacinação pelo mundo e, o mais grave, a falta de vacinas para dar vazão à grande demanda derrubaram por terra uma recuperação mais acelerada da atividade econômica num espaço de tempo mais curto. Devemos conviver com um primeiro trimestre de contração, especialmente no setor mais afetado pela pandemia, o de serviços, que no Brasil tem um enorme peso, de 63% no PIB. A matéria de capa desta edição traça uma radiografia das dificuldades desse setor no país, e a falta de perspectiva de uma volta à normalidade. A tendência é de fechamento de mais empresas e perda de novos empregos. E sem uma recuperação vigorosa do setor de serviços, a economia brasileira, que já sofre de problemas estruturais que se arrastam por anos, não alçará voo.

A Carta do IBRE traz um exercício importante sobre como se comportou o setor nesse período de pandemia, em comparação aos períodos de recessão datados pelo Comitê de Datação de Ciclos Econômicos (Codace), do FGV IBRE. Olhando pelo lado da oferta, “7 meses após o início da recessão de 2020, o setor de serviços havia recuperado 84% das perdas iniciais, registrando na mediana das nove recessões anteriores um avanço de 128%, também no sétimo mês após o início. O resultado histórico tão expressivo se deve, em parte, ao fato de que o setor costuma perder muito pouco durante recessões. Na mediana das nove recessões anteriores, a perda de PIB dos serviços foi de apenas 1,8%, contra expressivos 11% em 2020. Para fins de cotejamento, a indústria recuou, em termos medianos, 11,9% nas recessões anteriores e, desta vez, perdeu 15,9% entre fevereiro e abril”.

Por outro lado, a indústria de transformação se beneficiou registrando um ganho equivalente a 122% do total de perdas ocorridas durante as recessões datadas pelo Codace. Especialmente pelo consumo popular aquecido por itens como eletrodomésticos, eletrônicos, computadores, celulares, em grande parte turbinado pelo auxílio emergencial.

Apesar das grandes incertezas que ainda pairam no ar, uma notícia de alento: a Anvisa decidiu, no último dia 3, revogar a exigência da realização da fase três no Brasil para o uso emergencial de uma vacina que já tenha feito a fase três em outros países (ver Blog da Conjuntura). É uma esperança para que possamos ter outras vacinas, como a Sputnik V, a Moderna, a Novavax, entre outras. O governo parece já estar negociando a compra da russa Sputnik e da indiana Covaxin. Num período em que contabilizamos mais de mil mortes por dia, a rapidez na vacinação é o único instrumento para arrefecer esse quadro desolador e turbinar a economia.

#FiquemBem

Claudio Conceição

 


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