Edição de fevereiro de 2020

Nota do editor

Nos últimos dias de janeiro e início de fevereiro, dois novos fatos elevaram o grau de incertezas sobre a atividade econômica. O primeiro, o surgimento do coronavírus na China que, possivelmente, terá impactos importantes sobre o crescimento chinês e do resto do mundo. A indústria automobilística mundial é um dos exemplos em função do fechamento de fábricas de autopeças na China, comprometendo a produção de grandes montadoras que começam a fechar suas unidades por falta de peças.

No front interno, a queda de 1,1% na produção industrial no ano passado, depois de dois anos de crescimento – 2,5% em 2017 e 1% em 2018 – tende a comprometer o crescimento do país este ano, grande exportador de commodities para os chineses. É bem verdade que a retração no ano passado foi fortemente puxada pela indústria extrativa, pela tragédia de Brumadinho, e pela recessão na Argentina, mas a indústria brasileira sofre, há tempos, de uma crônica falta de competividade, reflexo da baixa produtividade do trabalho – pelas previsões do Observatório da Produtividade do IBRE (https://ibre.fgv.br/observatorio-produtividade) ela encolheu 0,9% o ano passado –, deficiência na infraestrutura e a questão tributária.

A fraqueza da indústria de transformação, que tinha uma participação de 17,8% no PIB em 2014, despencando para 11,1% em 2019, pode virar uma anemia com um cenário externo ainda mais desfavorável este ano, agravado pela epidemia do vírus chinês. O que afetaria as previsões de um crescimento mais vigoroso do PIB este ano, já que no primeiro bimestre a indústria deve ter um desempenho sofrível, com menos dias úteis devido ao Carnaval e o fraco desempenho do ano que passou.

A forma como o vírus na China irá se propagar será o fator que poderá aumentar ou não o nível de incerteza na economia mundial. Para o Brasil, além desse elemento, a crise argentina continuará a tirar pontos de nosso crescimento. É um começo de ano difícil.

Claudio Conceição

 


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