Edição de abril de 2019

Nota do Editor

Os sinais apontam para mais um ano de crescimento econômico bem aquém do necessário. A produção industrial cresceu apenas 0,7% em fevereiro sobre janeiro, quando havia recuado 0,7% sobre o mês anterior. A taxa de desemprego voltou a subir atingindo 13 milhões de pessoas e os índices de confiança têm recuado. A expectativa gerada de que a eleição de Bolsonaro, com promessas de uma agenda liberal, iria destravar a atividade econômica, não tem ocorrido na velocidade que o mercado esperava. Até agora, de concreto, só os leilões de aeroportos e ferrovias que tiveram elevados ágios sobre os preços inicialmente propostos. Sem avanços palpáveis na agenda para ativar a economia, com uma desastrada atuação na área de educação e declarações e posicionamentos polêmicos sobre os mais variados temas, a popularidade do presidente despencou; segundo o Ibope, de 49% dos brasileiros que consideravam o governo ótimo ou bom no primeiro trimestre, esse índice caiu para 34%, uma queda de 15 pontos. E dos que consideravam ruim ou péssimo, saltou de 11% para 24%.

E com uma agenda de não negociar com os partidos políticos, que foi defendida durante a campanha, Bolsonaro abriu várias frentes de atrito, especialmente com o Legislativo, colocando em risco a já espinhosa tarefa de aprovar uma reforma da Previdência, fator essencial para mostrar que o país se preocupa com a grave crise fiscal e está propenso a enfrentá-la. O que tem tido forte impacto sobre o humor do mercado e levado a sistemáticas revisões para baixo sobre o PIB deste ano.

Em sua visita a Israel, outro flanco de atrito aberto com os países árabes, grandes importadores de carne brasileira, pela promessa de mudar a embaixada brasileira para Jerusalém – o que acabou não ocorrendo, com a abertura de um escritório de representação –, o presidente decidiu voltar mais cedo para casa. E, salvo mudanças – o que não devemos descartar –, alterando o seu discurso de campanha, resolveu se reunir com os líderes de partidos políticos na busca de um entendimento para tocar a reforma da Previdência. O que não deixa de ser um bom sinal. Mas parece bastante improvável que a reforma que o governo encaminhou, prevendo uma economia de mais de R$ 1 trilhão, seja aprovada, sem ajustes. Mas qualquer aprovação, já é um bom começo. Resta aguardar os próximos capítulos desse turbulento e confuso início de governo.

Claudio Conceição

 


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