Sondagens refletem os desafios da recuperação entre empresas e consumidores

Por Solange Monteiro, do Rio de Janeiro

A confiança de empresas e consumidores quanto à recuperação econômica tem melhorado gradualmente, conforme as engrenagens da atividade vão sendo novamente acionadas, com um maior controle da pandemia. O acompanhamento realizado mensalmente pelas Sondagens do FGV IBRE reflete essa evolução, mas também os pontos sensíveis que ainda comprometem uma melhora mais consistente do otimismo com a retomada.

No caso dos consumidores, entre os quais a confiança ainda é menor quando comparada à empresarial, o índice de julho, divulgado na última segunda-feira, demonstra melhora sobre as expectativas em relação aos próximos meses. Ainda há, entretanto, pouca reação quanto à situação atual, cuja recuperação é prejudicada especialmente pela preocupação com as finanças pessoais. Quando observado por faixa de renda, o índice de confiança aponta recuo na faixa de mais baixa renda em relação a junho, resultado alinhado com uma conjuntura de alto desemprego e inflação. O maior aumento da confiança se deu entre respondentes com renda mensal acima de R$ 9,6 mil.

Índice de Confiança do Consumidor por faixa de renda mensal


Fonte: FGV IBRE.

Entre os empresários, a equipe de Sondagens do IBRE apontou no Boletim Macro que a evolução da confiança em junho levou o indicador ao maior nível desde outubro de 2013, com especial participação do setor de serviços, ajudado pela redução das restrições de circulação de pessoas. Os primeiros resultados divulgados para o mês de julho, relativos à construção e à indústria – os indicadores para Comércio e Serviços serão divulgados nesta quinta-feira (29) – mantêm a tendência de alta. No caso da construção, o índice de confiança subiu 3,3 pontos, para 95,7, maior nível desde março de 2014. Para Ana Maria Castelo, coordenadora de Projetos de Construção do FGV IBRE, esse resultado indica que, apesar da pressão inflacionária de matérias-primas jogar contra a melhoria dos negócios, as empresas do setor estão conseguindo repassar esse aumento de custos aos preços de seus produtos.

No caso da indústria, a evolução foi menor, de 0,8 ponto, ainda que a confiança do setor já esteja acima do nível de neutralidade, com 108,4 pontos. Claudia Perdigão, economista do FGV IBRE, ressalta nos resultados de julho a desaceleração do otimismo da indústria quanto aos próximos meses. Além do fato de que uma recuperação mais forte dos serviços tenda atrair parte do consumo concentrado em bens duráveis e semiduráveis durante a pandemia, o setor ainda enfrenta uma conjuntura de escassez de insumos e insegurança quanto à situação do provimento de energia elétrica, dada a crise hídrica, que tendem a nublar o horizonte.

Na coleta de dados realizada em junho, a equipe da Sondagem do FGV IBRE realizou uma pesquisa especial sobre problemas de abastecimento para a manutenção das atividades nessas empresas. Dos 11 setores investigados, em 7 as respostas sobre dificuldades para obter insumos e matérias-primas superaram 50% de menções. Em vários segmentos, a menção sobre problemas de suprimento superou as registradas pelas Sondagens em novembro de 2020, quando esse choque passou a preocupar o setor produtivo.  De acordo à pesquisa, o problema de falta de insumos passou a ser sensivelmente maior nas indústrias química, de informática e eletroeletrônicos e de veículos automotores, bem como no segmento de minerais não metálicos.

No Boletim Macro de julho, os economistas da equipe de Sondagens alertaram para outro fato preocupante: o de que, para 43,3% das empresas da indústria da transformação, a regularização desse provimento se dará somente em 2022 ou adiante. No caso da indústria farmacêutica, por exemplo, 64% dos respondentes afirmaram ainda não ter previsão sobre a normalização dessas entregas, seguida pela de informática e eletroeletrônicos, em que 42,8% tampouco veem horizonte para uma volta ao normal. Ainda que a principal questão das empresas consultadas pelo FGV IBRE – 1.098 no total – tenha sido a escassez de insumos locais ou importados, questões como preço desses produtos em dólar e câmbio continuam no radar, indicando que a melhora do cenário ainda é acompanhada de preocupações.

Gargalo no abastecimento


Fonte: FGV IBRE.

 

Período em que a empresa acredita que irá normalizar a entrega de insumos
(Em percentual)


Fonte: FGV IBRE.

 


As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva do autor, não refletindo necessariamente a opinião institucional da FGV.

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