Setor de serviços reage em fevereiro, mas primeiro trimestre ainda será de atividade fraca, apontam especialistas

Claudio Considera, coordenador do Núcleo de Contas Nacionais do FGV IBRE

Juliana Trece, pesquisadora do Núcleo de Contas Nacionais do FGV IBRE

Por Solange Monteiro, do Rio de Janeiro

O Monitor do PIB do FGV IBRE divulgado nesta terça-feira (20/4) apontou que em fevereiro a atividade econômica cresceu 1,4% em relação a janeiro, e 1,6% em relação a fevereiro de 2020. Um dos destaques desse resultado foi o setor de serviços, que registrou expansão de 1,7% em relação a janeiro –  mais que o dobro do crescimento de janeiro em relação a dezembro, de 0,8% –, e de 1,4% em relação a fevereiro de 2020. No acumulado de 12 meses, entretanto, o setor continua em terreno contracionista, com -4,4%.

Claudio Considera, coordenador do Núcleo de Contas Nacionais do FGV IBRE, ressalta especialmente o resultado do grupo chamado outros serviços, que compreende serviços prestados às empresas, às famílias, alojamento e alimentação, saúde e educação privadas. No agregado, essas atividades registraram alta de 8,1% em relação a janeiro. “Na comparação com o mesmo mês do ano anterior, o resultado de fevereiro foi -0,8%. Mas em janeiro foi de -9,4% e, em maio de 2020, de -22,8%. É uma evolução importante, para um grupo que representa 15% do PIB”, compara. A parte ruim desse resultado, diz Considera, é sua estreita relação com o aumento do contágio de Covid-19 verificado nos últimos meses – já que parte dessas atividades, como bares e restaurantes, depende de convívio social –, o que demandou a adoção das medidas de isolamento mais severas a partir de março. “Sem uma ampla vacinação, não teremos como garantir uma volta sustentada da economia em hipótese alguma”, afirma.

Taxa de variação mensal (em relação ao mês imediatamente anterior, em %)


Fonte: FGV IBRE.

Juliana Trece, pesquisadora do Núcleo de Contas do FGV IBRE, aponta por sua vez que essa melhora também reflete uma adequação das empresas a novas formas de trabalho suscitadas pela crise sanitária, o que tem aquecido a demanda de alguns serviços prestados às empresas. “São negócios que estão mais adaptados à forma de operar sob as limitações deste momento, e que pode ser referência desse novo normal esperado para quando a pandemia seja controlada”, diz.  Outros segmentos que também tem ganhado terreno na atual conjuntura, aponta Considera, são os de informação e de intermediação financeira, citando o exemplo da demanda por serviços de streaming por assinatura e o aumento de transações online, como compras, pagamentos e transferências. Na comparação de fevereiro em relação ao mesmo mês do ano anterior, esses segmentos cresceram, respectivamente, 5,3% e 7%.

Ambos os pesquisadores afirmam que esses são sinais positivos, mas reconhecem que o agravamento da pandemia em março poderá reverter parte dessa recuperação. “Independentemente de o primeiro trimestre fechar com um PIB negativo ou positivo, o relevante é reconhecer que será um desempenho fraco”, ressalta Juliana.

Pelo lado da demanda, esse resultado débil se reflete especialmente no consumo das famílias, que em fevereiro registrou queda de -3,5% em relação a fevereiro de 2020. “Se tomamos a taxa de variação trimestral interanual do consumo das famílias, observamos em fevereiro uma ligeira queda no consumo tanto de bens não-duráveis quanto de semiduráveis, além do consumo de serviços, que ainda está muito negativo, apesar de melhor”, descreve Juliana, lembrando que cerca de 54% do consumo das famílias é formado por serviços.

Considera reitera a necessidade de uma cobertura mais ampla da vacinação para uma retomada mais forte da economia. “Agora chegamos a um ponto em que as vítimas não envolvem só idosos e aposentados, mas pessoas em idade ativa. Além de atividade, estamos perdendo mão de obra, o que não é pouca coisa”, afirma.

Taxa de variação do Consumo das Famílias e contribuição por componentes
(taxa trimestral móvel com relação ao mesmo período dos anos anteriores, % e p.p.)


Fonte: FGV IBRE.

 


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