Projeções para investimento em infraestrutura em 2022 ainda são metade do necessário para se cobrir hiato, aponta levantamento

Por Solange Monteiro, do Rio de Janeiro

Uma análise atualizada do estoque e fluxo de investimentos em infraestrutura no Brasil, divulgada na semana passada pela Inter.B, aponta que os investimentos no setor esperados para 2022, calculados pela consultoria em 1,71% do PIB, estão aquém do necessário para se cobrir o hiato do setor. A modernização da infraestrutura brasileira, diz, depende de um gasto anual de ao menos 3,64% do PIB por duas décadas. As projeções para 2022 foram realizadas com base em orçamentos de governos e planos de empresas concessionárias e arrendatárias, tanto públicas quanto privadas. Os investimentos previstos, da ordem de R$ 151,2 bilhões – um aumento real de 1,0% em relação a 2021 –, serão menores em energia e telecom do que no ano passado, mas se ampliarão em transportes (1,9%) e, de maneira mais significativa, em saneamento (16%), graças às novas concessões.

Como apontou a revista Conjuntura Econômica de março, nos últimos anos o país demonstrou achar um modelo virtuoso para a atração do investimento privado em infraestrutura. Por enquanto, porém, esse investimento apenas conseguiu repor parte da participação do setor público perdida com a necessidade de ajuste fiscal imposta pelo teto de gastos, que tem resultado em corte de despesas discricionárias. O melhor nível alcançado na última década foi em 2014, de 2,48% do PIB. Recuperar parte desse impulso, afirmou Claudio Frischtak, presidente da Inter.B, à Conjuntura, depende de recuperar o investimento público, com ampliação do espaço fiscal, e desde que se melhore a governança dessa despesa. “A alocação e a qualidade do gasto público ainda são questões não resolvidas”, disse. Na Carta de Infraestrutura recente, a Inter.B também recomenda a liderança do BNDES na mobilização do mercado  - especialmente seguradoras - para viabilizar a estrutura de project finance, caracterizado pelo financiamento de projetos com base no seu fluxo de caixa.      

Hiatos setoriais em investimento e estoque na infraestrutura brasileira
(em % do PIB)


Fonte: cálculos e estimativas da Consultoria Inter.B.

A Carta aponta que parte significativa da infraestrutura do país tem em torno de 30 a 40 anos e baixo nível de manutenção, levando a perdas de eficiência e altos custos de operação, o que torna cada vez mais alto o custo de repor a depreciação do estoque.

De acordo ao levantamento da Inter.B, o maior hiato entre as infraestruturas se encontra em transportes, representando mais de 60% do total do hiato do investimento em infra, se tomado como base os desembolsos realizados em 2021. Nesse setor, é preciso não apenas acelerar investimentos como garantir um planejamento que garanta uma melhor integração e conexão entre modais. O investimento agregado em transportes, diz a Carta, é estimado em cerca de 0,55% do PIB em 2022, “abaixo da média das duas últimas décadas, e ainda distante dos investimentos necessários para sua modernização, de 1,75% do PIB ao ano”. No caso das rodovias, o aumento dos investimentos em 2021 foi de 27,2% em termos reais, graças ao avanço dos desembolsos relacionados à quarta rodada de concessões. Os estados também ampliaram investimentos no modal em 2021, em 68,5% em relação ao exercício anterior, motivados pela alta atípica de arrecadação. Espera-se que esse nível seja mantido em 2022. Quanto ao modal ferroviário, depois da expressiva alta verificada em 2020, de 67,1%, devido principalmente à antecipação de renovação e contratos, espera-se uma retração dos investimentos para este ano. A Inter.B ressalta que o programa “Pró-Trilhos” do governo federal, que envolve 27 projetos e 10 mil km de extensão, ainda não tem início previsto.

Investimento em transporte, por modal 
(R$ bilhões constantes)


Fonte: Inter.B.

Para os aeroportos, em 2022 os investimentos privados estarão concentrados nas concessões realizadas em 2021, dos blocos Central, Norte 1 e Pampulha. A Carta observa uma queda dos investimentos em termos reais devido à defasagem entre a concessão e o programa de investimento, como também pela crise da aviação no contexto da pandemia. Espera-se, entretanto, que nos próximos anos essa situação e reverta e os investimentos voltem, impulsionados por nova rodada de concessão. Também há previsão de queda dos investimentos no setor portuário. Para hidrovias, a Carta alerta a necessidade de legislação que permita a exploração do regime de concessões para impulsionar investimentos privados. E, para mobilidade urbana, a projeção da Inter.B é de um aumento de 20,9% nos desembolsos, com destaque para recentes concessões no sistema metroviário de São Paulo. 

 


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