PIB se recupera, mas desempenho segue heterogêneo

Por Solange Monteiro, do Rio de Janeiro

O PIB do primeiro trimestre de 2021 divulgado hoje (1/6) pelo IBGE aponta um crescimento de 1,2% em relação ao quarto trimestre do ano passado e de 1% em relação ao mesmo período de 2020, voltando ao patamar pré-pandemia, do final de 2019. Esse resultado demonstra que a segunda onda de Covid-19 – que de janeiro a abril já havia provocado um número de mortes superior ao de 2020 inteiro – encontrou parte da economia mais bem-adaptada a restrições de circulação, mas também uma redução das medidas de isolamento social que limitavam o funcionamento de determinadas atividades econômicas.

A expansão contabilizada pelo IBGE é positiva se comparada à baixa expectativa do mercado na virada do ano, quando se esperava um começo de 2021 difícil, com PIB até contracionista. Mas continua refletindo uma retomada heterogênea, puxada do lado da oferta especialmente pelo agro (5,7% em relação ao trimestre anterior), e a indústria extrativa (3,2%). Nas atividades de serviços, que respondem por 73% do PIB, os destaques foram transporte, armazenagem e correio (3,6%), intermediação financeira e seguros (1,7%), e informação e comunicação (1,4%). Outros serviços, que incluem serviços prestados a famílias, alojamento, alimentação fora de casa, ficaram estáveis em 0,1%. Serviços continuam sendo o setor mais afetado pela pandemia, com resultado ainda negativo na comparação anual: -0,8%, contra 3% na indústria e 5,2% na agropecuária.

“Quando comparamos o resultado de outros serviços com o do quarto trimestre de 2019, ainda observamos uma queda de 9,5%”, ressalta Silvia Matos, coordenadora do Boletim Macro do FGV IBRE. Em contrapartida, atividades financeiras estão 5,2% acima do nível registrado em 2019 – provavelmente relacionada à desmonetização da economia estimulada pelo isolamento, com aumento de uso de outras formas de pagamento.

PIB 1º tri de 2021 vs 4º tri de 2019 com ajuste sazonal
(em %)


Fonte: IBGE.

Ela aponta que o ainda fraco desempenho de serviços é um dos fatores que levaram ao resultado do PIB do trimestre ser inferior à estimativa do IBRE para o período divulgada no Boletim de maio, de 1,6% em relação ao quarto trimestre de 2020. Bem como o resultado do consumo do governo e das famílias – estas mais sensíveis aos efeitos da pandemia não apenas o ponto de vista sanitário quanto no mercado de trabalho e na renda – que registraram queda de, respectivamente, de 0,8% e 0,1%. Do lado da demanda, os destaques positivos foram para as exportações, com alta de 3,7%, e os investimentos, de 4,6% em comparação ao trimestre anterior.

Silvia ressalta que esse desempenho do consumo das famílias não chega a ser uma surpresa, já que os indicadores de confiança do consumidor produzidos pelo FGV IBRE se mantêm em nível muito baixo em termos históricos. O último resultado, referente a maio, mostra que além de apresentar a maior diferença em relação à confiança do setor empresarial desde 2005, esse indicador reforça o diagnóstico de um consumidor preocupado com a pandemia e cauteloso nos gastos. A economista afirma, entretanto, que as projeções para o PIB do segundo trimestre continuam altas, em 11,4% na comparação interanual, levando em conta que o segundo trimestre de 2020 foi o pior momento da pandemia nesse ano, com queda da atividade acima de 10%. “O primeiro semestre será de PIB positivo, e para o fechamento do ano continuamos com a estimativa de 4,2%”, diz.

Confiança consumidor x empresarial


Fonte: FGV IBRE.

A síntese de resultados dos indicadores produzidos pelo IBRE em maio dão mais algumas luzes sobre como a atividade deverá se comportar no segundo trimestre. Nesse mês, comércio e serviços puxaram a alta da confiança, com melhora na percepção da situação corrente, enquanto a indústria se manteve em terreno positivo pelo nono mês seguido.

Um detalhe observado pela equipe do FGV IBRE é de que a melhora dos resultados da confiança empresarial em maio se deu especialmente pela migração de respostas desfavoráveis para o terreno neutro – indicando mais uma redução do pessimismo do que efetivamente um amento do otimismo. Outro dado que aponta à cautela na interpretação dos resultados é o Indicador de Incerteza da Economia produzido pelo IBRE, que demonstra melhora, mas ainda permanece acima do nível pré-pandemia, bem como do nível médio observado de 2015 a 2019, que já era historicamente elevado.

Indicador incerteza


Fonte: FGV IBRE.

 


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