“Perspectivas para o PIB são melhores, mas ainda dependem da vacina”

Claudio Considera, coordenador do Núcleo de Contas Nacionais do FGV IBRE

Por Solange Monteiro, do Rio de Janeiro

O Monitor do PIB do FGV IBRE, divulgado ontem (17/5), sinalizou um crescimento de 1,7% na atividade econômica no primeiro trimestre. É uma surpresa positiva, frente a estimativas anteriores que apontavam um início de ano com crescimento nulo ou até ligeiramente negativo, e alimenta revisões para cima do PIB de 2021. Claudio Considera, coordenador do Núcleo de Contas Nacionais do FGV IBRE, afirma que os principais destaques desse resultado são a melhora de desempenho do setor de outros serviços – que compreende serviços prestados às empresas, às famílias, alojamento e alimentação, saúde e educação privadas –, que já apontava boa reação na edição anterior do Monitor, mesmo se mantendo em terreno contracionista. “Transportes e comércio também apresentaram resultado melhor do que o estimado”, diz Considera. 

O pesquisador destaca que, apesar dessa melhora de ritmo, o setor de serviços continua apresentando desempenho heterogêneo, com uma grande distância entre os números de segmentos como o de serviços de informação, que cresceu 6% na comparação trimestral em relação ao mesmo período do ano passado, contra -5% de outros serviços. “No agregado, ainda é um resultado que puxa o consumo das famílias – importante impulsionador do PIB em recessões passadas – para baixo”, diz. Na comparação do primeiro trimestre de 2021 com o de 2020, o Monitor do PIB sinaliza o consumo das famílias com retração de -1,2%. No segundo trimestre de 2020, o mais crítico da pandemia nesse ano, a retração foi de -12,2%. Nessa rubrica, destaca-se o bom resultado do segmento de produtos duráveis, com crescimento de 8,2% em relação ao primeiro trimestre de 2020. Já os produtos não-duráveis registraram retração de -0,6% na mesma comparação. “Esses dois resultados, na minha opinião, mostram que não houve uma superestimação do impacto do fim do auxílio emergencial na economia, pois indicam que o consumo de alimentos desacelerou, e parte da atividade foi puxada pela demanda das famílias de mais alta renda, que investiram em bens duráveis”, diz.

Serviços: recuperação surpreende, mas segue heterogênea


Fonte: Monitor do PIB FGV IBRE.

Considera afirma que a expectativa de um PIB para 2021 mais próximo de 4% do que de 3% é plausível, mas ressalta que as estimativas ainda continuam dependentes de se ampliar a cobertura da vacinação de forma mais acelerada. “Este ano, a melhora de alguns segmentos que demandam maior interação social aconteceu às custas de um forte aumento da mortalidade – em abril, o número de mortes por Covid-19 superou o registrado em todo o ano de 2020 – e não é possível seguir assim”, diz. “Há um trade off entre economia e saúde que não desapareceu. Somente com menos contágio e menos mortes as pessoas poderão voltar a trabalhar, e a economia, voltar a crescer com segurança.”

Consumo das famílias x fim do auxílio: impacto menor que o imaginado?


Fonte: Monitor do PIB FGV IBRE.

 


As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva do autor, não refletindo necessariamente a opinião institucional da FGV.

Subir